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Celtics x Pistons – Parte 1

Loja de camisas da NBA

Boston Celtics e Detroit Pistons compõem o especial grupo de equipes com a maior quantidade de história, craques e títulos da NBA. Nesta 4ª-feira, ambas as franquias realizarão a 360ª partida desse duelo ímpar, o qual o Celtics Brasil passará, às vésperas de cada confronto entre as equipes, nessa temporada, a relembrar e contar os feitos dessa histórica rivalidade.

Enquanto o Celtics se destaca por ser uma franquia vencedora desde os primórdios da NBA, alcançando seus primeiros títulos ainda na década de 50, o então Fort Wayne Pistons assumiu um papel de coadjuvante ao associar-se à NBA, no ano de 1957. Antes disso, a franquia, cuja casa ainda era a pequena cidade de Fort Wayne (estado de Indiana), era membra de ligas alternativas no basquete norte-americano, como a National Basketball League (NBL) e, posteriormente, da Basketball Association of America (BAA).

Todavia, seus donos, à época, assistindo aos lucros que as franquias estavam gerando ao serem transferidas para as principais metrópoles norte-americanas, resolveram tirar o Pistons de Fort Wayne e levá-la para Detroit, que era a quinta maior cidade estadunidense na ocasião. O nome ”Pistons” foi mantido devido ao fato de Detroit ser, até os dias de hoje, famosa por sua indústria automobilística.

Feita essa introdução histórica de ambas as franquias, prossigamos nesse especial. O Celtics continuou com sua rotina de títulos, ao levantar troféus nas décadas de 60 e 70. O já Detroit Pistons, por sua vez, encarou difíceis décadas nesse mesmo período, ao apresentar, invariavelmente, campanhas negativas e pouco estimulantes para seus fiéis torcedores. Um traço marcante para o início de mudança dessa história de fracassos, foi a venda da franquia para o magnata Bill Davidson, em 1974. Davidson foi o proprietário dos Pistons até seu falecimento, que ocorreu em 2009.

A histórica rivalidade entre as franquias nasceu e, ficou para a eternidade, durante a década de 1980. À essa época, o Celtics era liderado por Larry Bird e monopolizava a NBA, ao lado do Los Angeles Lakers, de Magic Johnson e Kareem Abdul Jabbar. O Detroit Pistons queria se intrometer nessa festa e chamar atenção para si também. E conseguiu.

O ano de 1981 foi marcante para ambas as franquias. Esse ano deu ao Celtics o seu 14º título, o primeiro de Bird como profissional. Meses depois do Celtics derrotar o Rockets na NBA Finals, ocorreu o 1981 NBA Draft. Nele, o Pistons obtinha a segunda escolha geral do recrutamento. O jogador escolhido? Isiah Lord Thomas III, ou simplesmente Isiah Thomas, um dos maiores e melhores PG’s que o mundo já viu.

O Boston Celtics seguiu seu caminho de glórias, entrando, a cada temporada mais, como real e verdadeiro candidato ao título. O Detroit Pistons, apesar de ter achado seu futuro Franchise Player em Thomas, seguia o sempre doloroso processo de rebuilding. No começo de 1982, a fim de acelerar esse processo, a franquia de Michigan trouxe o polêmico pivô Bill Laimbeer (guardem esse nome) e o ala Vinnie “The Microwave” Johnson, através de uma troca com o Cleveland Cavaliers e Seattle SuperSonics, respectivamente. Esses 2 formaram, ao lado de Isiah Thomas, um trio que perdurou por mais de uma década em Detroit e foram responsáveis diretos pelas mudanças de vento na franquia.

Em 1984, o Boston Celtics conquistou seu 15º título, em uma final inesquecível contra o arquirrival Los Angeles Lakers. O sucesso era uma constante em Boston. O fracasso era regra em Detroit. Isiah Thomas odiava perder, não era de sua natureza. Muito menos do perfil de Bill Laimbeer e do famoso treinador Chuck Daly (o mesmo que treinou o lendário 1992 Dream Team, nas Olimpíadas de Barcelona).

No ano de 1985, finalmente, Boston Celtics e Detroit Pistons se encontraram nos Playoffs. O Celtics era o franco favorito, afinal, tinha o MVP Larry Bird e ostentava o posto de atual campeão da NBA. O Pistons não passava de um franco atirador, liderado por jogadores novatos em Playoffs. Muito embora o Pistons tenha oferecido certa resistência no confronto, com direito a uma atuação memorável de Vinnie Johnson no Game 4 (nesse jogo, “The Microwave” acertou 11 de seus 12 arremessos no 4º quarto, terminando a partida com 34 pontos), o Celtics venceu a semi-final de conferência por 4×2, liderado por seu eterno camisa 33 – Larry Bird. No entanto, acabou sofrendo sua primeira derrota, em finais, para o Los Angeles Lakers.

No Draft do mesmo ano, o Pistons selecionou outro jogador que teve sua camisa aposentada anos depois: Joe Dumars. Eles também adquiriram o monstro Rick Mahorn, junto ao extinto Washington Bullets. Bill Laimbeer e Rick Mahorn formaram a dupla de garrafão mais violenta que a NBA já viu até os dias de hoje. Na temporada seguinte (1985/1986), o treinador Chuck Daly e o capitão Isiah Thomas visualizaram que só havia uma forma de causarem maior impacto no forte Leste: eles deveriam jogar de forma mais física e brutal. Laimbeer uma vez disse que o mais importante não era só evitar a cesta, mas também deixar uma mensagem: ”ok, você pode infiltrar nosso garrafão e tentar pontuar, mas você vai se arrepender e sair com dores por isso”. E assim jogava o Pistons da segunda metade dos anos 80.

Em 1986, o Boston Celtics conquistou seu 16º título, com direito a 67 vitórias em 82 possíveis na temporada regular. Larry Bird conquistou o prêmio de MVP pelo terceiro ano consecutivo e ninguém era capaz de superar o Celtics no Leste. Ninguém. E isso incomodava Isiah Thomas e cia. No 1987 NBA Draft, o Pistons, enfim, encerrou seu rebuilding, ao recrutar o folclórico Dennis Rodman e o útil John Salley. O Pistons não era mais um time de garotos, já que frequentava os Playoffs desde 1985, quando foi eliminado pelo superior Celtics. Em 1987, chegou a hora de testar, novamente, essa superioridade. E ambas as franquias se encontraram na Eastern Conference Finals daquele ano.

Abaixo, essa prévia do documentário “The Bad Boys”, feito pela ESPN norte-americana, resume como Pistons e Celtics duelaram nessa série.

De 1981 a 1986, o Celtics havia vencido o Leste em 4 oportunidades. Os Bad Boys de Detroit surgiam como a primeira e verdadeira grande ameaça a tirar o Celtics do trono de Rei do Leste. Após abrir 2×0 na série, de forma incontestável, o Celtics foi para Detroit com uma confortável liderança e a expectativa de manter-se, de forma tranquila, no posto de soberano do Leste. Ledo engano. No Jogo 3, os Bad Boys fizeram jus ao nome, e Bill Laimbeer conseguiu entrar na cabeça de Larry Bird, ao realizar uma jogada violentíssima contra o craque celta. Bird, fora de si, revidou jogando a bola na direção do camisa 40 de Detroit e ambos foram ejetados da partida. No vídeo acima, Laimbeer descreve que sua intenção era entrar na cabeça de Bird. Se ele afetasse a mente do camisa 33, ele afetaria todo o elenco celta. E assim ocorreu. A série voltou para Boston empatada em 2 a 2.

Laimbeer foi classificado como ”o jogador mais sujo da NBA”, por Michael Jordan e depois desse fato, contou com o apoio de Larry Bird: ”É como Michael disse, e eu acho que todos que assistem a NBA já perceberam isso”. E o camisa 33 do Celtics completou seu raciocínio com um convite inusitado para Laimbeer: ” Eu gostaria que todos saíssem da quadra e a deixassem desabitada por 15 minutos. Ademais, gostaria que só deixassem Laimbeer e a mim e que nós resolvêssemos nossos problemas. Assim, nós veríamos quem é o homem de verdade nessa porra”. Será que Laimbeer conseguiu entrar na mente de Bird? Eu diria que sim.

O cenário de guerra estava montado para o Game 5, em Boston. Laimbeer havia mexido não só com Larry Bird, mas com o orgulho celta, com o famoso Celtics Pride. No quinto jogo da histórica 1987 Eastern Conference Finals, o pivô celta – Robert Parish -, tratou de mostrar o cartão de visita para Laimbeer e fez isso (a partir de 0:17s do vídeo abaixo):

Sem dó nem piedade, o pivô celta desceu uma série de socos, fora do lance de bola, no rosto de Laimbeer. O recado estava dado: o Celtics sabia e aceitava jogar na técnica e também na porrada. A torcida foi ao delírio. O saudoso Boston Garden não queria apenas a vitória, queria sangue.

Tirando esse cenário de guerra desenhado por ambas as franquias, o Game 5 também entrou para a história devido ao seu desfecho. O Pistons estava, a segundos, de tirar o mando de quadra do Celtics e voltar para Detroit liderando a série por 3×2. Entretanto, o Celtics tinha Larry Bird. E graças a ele, a NBA e, especialmente, nós celtas, fomos agraciados com uma das jogadas mais importantes da história. Senhoras e senhores, eis o final do Game 5 da Eastern Conference Finals de 1987:

O Detroit Pistons acabou vencendo o Game 6, em seus domínios, e forçando o decisivo e final Game 7, no Boston Garden. Em um jogo disputadíssimo, o Celtics derrotou os Bad Boys de Detroit, por 117×114 e caminhou para sua quarta final consecutiva. Nesse jogo, Larry Bird terminou a partida com 37 pontos, 9 rebotes e 9 assistências, liderando a equipe de Massachusetts para a vitória em uma série épica.

Contudo, a confusão não acabou por aí. Pouco após o jogo, a imprensa perguntou para Dennis Rodman, o que ele achava de Larry Bird. As palavras de “The Worm” foram: ”Se Bird fosse negro, ele não teria tanto alarde e seria apenas mais um na NBA”. Ao tomar conhecimento da opinião de seu companheiro de time, o sereno capitão Isiah Thomas pôs lenha na fogueira ao concordar. E isso gerou polêmica em âmbito nacional norte-americano.

Às vésperas do Game 2, da 1987 NBA Finals, entre Celtics e Lakers, a polêmica chegou a tal ponto que o comissário David Stern precisou intervir e fez Isiah Thomas reunir-se com Bird e ambos realizaram uma coletiva em Los Angeles. Contudo, o que era ruim, ficou pior. Bird, crente que Thomas se desculparia perante às câmeras, aceitou o diálogo. Todavia, Isiah Thomas ratificou seu pensamento na frente de Bird, da imprensa e do mundo: ”Se Bird fosse negro, vocês não dariam o mesmo ibope para ele”. Racismo de Thomas, e Bird, injuriado, desistiu da coletiva e o deixou sozinho. A reação de Thomas? Seu famoso e debochado sorriso. Confiram:

https://www.youtube.com/watch?v=zBrc11rTjsQ

Depois desse cenário de ódio montado ao longo dos anos e, especialmente, em 1987, a NBA esperava ansiosamente por um novo encontro entre as franquias. O Pistons não era mais tido como zebra. Era tido como os Bad Boys de Detroit. O Celtics, famoso por sua técnica e garra, também não abaixaria a guarda. Tudo era possível, desde socos e racismo a cestas inesquecíveis.

E a segunda parte dessa série contará o que veio a ocorrer depois de 1987 entre Boston Celtics e Detroit Pistons, até o fim da era Bird em Boston e da era Thomas em Detroit. Não percam!

10 comentários

  • 30 for 30 – Season 2 Episode 18
    vemos muito disso aí.

    Aliás, quem puder assistir, vale muito a pena.

  • Mito da 40 de Detroit. Melhor época da NBA, tinha que jogar e aguentar o tranco. Sem essas estrelas “soft”de hoje em dia. Quem pagou o preço dos bad boys foi o Thomas, que ficou de fora do dream team.

  • Fala Romulo, sou do @PistonsBrasil_ e venho lhe dar os parabéns por mostrar a história desse confronto. Realmente naquela época os Bad Boys deram uma canseira ao Lendário Larry Bird(jogando sujo muitas vezes). Me chamou a atenção uma frase em que você diz que Laimbeer e Mahorn foramaram a dupla mais suja! kkkkkk Pior que foi mesmo. Grande abraço a vocês e todos os fãs desse glorioso time de Massachusetts. No que precisar estamos a disposição !!

      1. Belíssimo texto, mas tomo a liberdade de pontuar algumas coisas apenas:

        1) A NBA nos anos 1980 era repleta de craques espetaculares, super times, mas a porradaria era (quase) a regra. E o time do Boston Celtics era um dos mais sujos e físicos da liga. Bird batia horrores na defesa, brigava com geral e nunca foi santo. O que, a meu ver, ajuda a entender, por exemplo, o quanto ele foi melhor e mais influente do que caras como LeBron James, Kobe Bryant e Tim Duncan. Jovens que não viram Larry Bird jogar, saibam disso: o mais importante no Bird não era o seu incrível talento. Era seu espírito de luta e tb seu carisma e liderança. E isso passava obrigatoriamente por ser um trash talker, ser fisicamente agressivo e ofensivamente letal;

        2) O time do Detroit Pistons dos anos 1980 foi a melhor defesa da história e, sim, era um time físico e agressivo. Batiam pra caceta. Mas tb tinham um formidável conjunto ofensivo, um dos melhores point guards (Isiah Thomas) de todos os tempos, um second guard (Joe Dumars) excepcional, um técnico brilhante (Chuck Daly), o melhor jogador defensivo que vi jogar (Dennis Rodman), um ala All-Star (Adrian Dantley, depois trocado por Mark Aguirre que, inclusive, foi 01 no draft, em 1981). Os Pistons eram um timaço muito além de serem desordeiros e brigões. Não teriam se tornado bicampeões (poderiam ter sido tri ou, até mesmo tetra e quiçá pentacampeões, haja vista terem sido roubados no jogo 6 das finais de 1988 contra o Lakers, sem Isiah Thomas perdeu o jogo 7 daquela final contra os Lakers por apenas um ponto, ganharam em 1989 e 1990 e, quando foram varridos pelos Bulls (1991), muita gente se esquece de que Isiah Thomas ficou de fora mais de 50 jogos naquela temporada por conta de uma fratura no pulso e que jogou fora de forma e no sacrifício aquela final de conferência.

        3) M. L. Carr e Cedric Maxwell, junto com Larry Bird, Danny Ainge e Dennis Johnson não eram, tipo, Bad Boys tb do ponto de vista dos Lakers de 1984-1985 e dos Sixers da primeira metade dos anos 1980? Com certeza, né? Então, agudizar a visão mais porradeira desse Detroit Pistons não seria um tanto injusto?

        4) Cara, Dennis Rodman tocou num ponto sensível. Isiah Thomas, apesar de ter enaltecido o imenso talento de Larry Bird, endossou aquilo que Rodman dissera. Thomas percebeu que, como negro vindo da miséria de um dos mais miseráveis guetos dos Estados Unidos, havia mexido com o branco errado. Mas chamá-lo de racista, numa sociedade como a americana e tendo em vista o que, de fato houve, é absurdo. Não há “racismo reverso”. Isso é absolutamente impossível. E Isiah Thomas foi provocado a esse respeito na entrevista coletiva que concedeu junto a Larry Bird. Essa questão o tirou do Dream Team. Até aquele momento, Isiah Thomas era um super astro da NBA, ascendendo para chegar ao patamar de Bird e Magic. Era respeitado e querido. Participava de programas de televisão. Seu sorriso não era considerado debochado. Depois disso, foi demonizado, perseguido e, mesmo assim, conseguiu se consolidar como um dos melhores e mais revolucionários jogadores da história do esporte. Recentemente, compararam Stephen Curry com Isiah Thomas como fizeram no passado com o Allen Iverson. Não dá pra comparar, pois Thomas enfrentou alguns dos melhores point guards, ala-armadores, ala-pivôs e super pivôs de todos os tempos com regras que permitiam pancadaria. Isiah tinha 1,83m e era franzino. John Stockton, ao ser empossado no Hall of Fame do basquete, escolheu Isiah para anunciá-lo e justificou isso dizendo que, sem o impacto de Isiah Thomas na NBA, ele não teria as condições necessárias para alcançar o nível que obteve na liga. Iverson, Curry, Nash e tantos outros tb não. Racismo é dose pra mamute. Rodman e Thomas erraram ao falar aquilo sobre Bird em função do talento que este já havia mais do que demonstrado em quadra. Mas racista foi a reação contra o que disseram e o que fizeram anos depois contra Isiah Thomas, excluindo-o do Dream Team (uma vaga tinha que ser dele por justiça) e invisibilizando sua espetacular carreira e talento. Isiah Thomas foi campeão derrotando Bird, Jordan e Magic Johnson em sequência, sendo perseguido pela mídia. Isso não é pouca coisa.

        Um abraço!

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