Análise | Heat x Celtics – 27/10/2023

Na segunda partida da temporada, um jogo com cara de final de conferência leste.

Em um confronto de altíssimo nível e uma batalha ferrenha entre os técnicos, o Boston Celtics se sobressaiu sobre o subestimado time do Miami Heat pelo placar de 119 x 111.

O primeiro quarto

O Celtics começou bem, tentando diversas jogadas dentro do garrafão e imprimindo um ritmo de jogo aceleradíssimo. A defesa, contudo, principalmente em situações de pick and roll, apresentou muitas falhas. Mérito do time de Miami que soube explorar as trocas de marcação da equipe de Boston e atacou bastante Tatum e Brown nessa situação enquanto tiravam Kristaps Porzingis da jogada.

Nos primeiros 5 minutos, o Celtics sentiu a pressão dentro do garrafão, tanto no ataque quanto na defesa, tendo grande dificuldade de parar Bam Adebayo, que anotou 6 pontos em 3-4 arremessos e foi para a linha de lance livre por duas vezes.

Na primeira metade do 1º quarto, vimos o mesmo Brown do primeiro jogo, ainda perdido na rotação. Mas isso não durou muito tempo e o camisa 7 felizmente mostrou dominância no lado defensivo e, principalmente, no lado ofensivo, com uma bandeja logo após um rebote, um lance livre e uma infiltração com a mão esquerda para finalizar com a mão direita no aro.

A segunda metade foi coletivamente bagunçada, com Derrick White e Jaylen Brown se destacando positivamente, principalmente na defesa. Apesar disso, o Celtics continuou encontrando dificuldades para combater a fisicalidade de Miami dentro do garrafão e, ao mesmo tempo, viu Miami drenar bolas de 3 seguidas. 

Foi nesse momento que vimos o primeiro movimento de Joe Mazzula para ajustar o time. O técnico tirou Porzingis, que em 7 minutos de jogo já acumulava duas faltas, e colocou o estreante Oshae Brisset. A partir disso, a energia do jogo mudou completamente, com o camisa 12 incorporando a energia de Kevin Garnett e disputando todas as bolas com garra e animação. Definitivamente foi o ponto de virada para o time no decorrer do primeiro quarto, que terminou 28 x 25 para Miami.

O segundo quarto

O Celtics voltou para o 2º quarto com Payton Prichard em quadra junto aos titulares (no lugar de Jrue Holiday) e logo no início converteu uma cesta quase do meio da rua, cortando a diferença para 2 pontos. Miami então foi forçado pela defesa em zona do Celtics a chutar mais e Tatum respondeu à altura, obtendo sucesso nas infiltrações. Tatum conseguiu contribuir de forma agressiva no garrafão, convertendo 3 infiltrações nos primeiros 3 minutos, coisa que não aconteceu no primeiro quarto.

O esquema ofensivo do Celtics se dividiu entre infiltrações e perímetro, e nos primeiros 3 minutos Porzingis se encontrou mais afastado do garrafão, contribuindo para que Tatum tivesse mais espaço para infiltrar. Cabe ressaltar que até o minuto 6:48 do segundo quarto, o Celtics havia chutado 41% da linha dos 3 pontos.

Porzingis sofreu bastante com a estratégia e rotação escolhida por Mazzula para esse jogo, com três tentativas de longa distância e nenhum acerto, algo totalmente diferente do que vimos na primeira partida, contra o Knicks. Isso pode ter acontecido por questões de confiança, mas também por escolhas erradas em quadra. De qualquer forma, não deve ser algo realmente preocupante.

Entretanto, esse jogo escancarou um problema do letão que pode ser explorado por outros times futuramente. Nessa partida, Porzingis demonstrou algo que os mais céticos já temiam em relação ao seu jogo. Ainda que seja um excelente protetor de aro, o jogador letão possui dificuldades em marcar oponentes mais velozes dentro do garrafão. Com isso, vemos jogadores mais baixos tirando vantagem desse matchup. 

O pivô do Heat, Bam Adebayo, levou vantagem em grande parte dos duelos que teve com o jogador do Celtics. Por isso, vimos Porzingis acumular faltas desde o primeiro quarto e ser expulso em um 4º quarto extremamente disputado contra um dos melhores times da liga.

Contudo, esse problema pode, e deverá, ser resolvido ao longo da temporada. Com cada jogo, o entrosamento entre o time tende a aumentar e as trocas de marcação virão de maneira mais natural. Além disso, o jogo de hoje será revisto pela comissão técnica e possivelmente teremos mais dobras de marcação para ajudar o pivô Celta.

Apesar de tudo isso, o Celtics conseguiu segurar o Miami e permitiu apenas 31% dos arremessos tentados nos primeiros 7 minutos do segundo quarto, tendo adaptado mais a defesa para fechar o garrafão e correr atrás do jogador no perímetro, onde Horford e White tiveram muito sucesso.

O primeiro tempo terminou com Boston na frente, 55 x 60.

O terceiro quarto

Esse foi mais um daqueles quartos que nos faz querer arrancar os olhos e logo em seguida babar perante à qualidade e dominância da nossa equipe.

O quinteto titular entrou bastante focado, com destaque para Jaylen Brown que, de forma ligeira, anotou rebotes rápidos e jogadas de transição nos primeiros minutos, se adaptando bem nas rotações entre Butler e Herro. O Celtics sofreu para parar a zona do Miami, que explorou os lados da quadra e drenou algumas bolas de 3 pontos. Em zona o Celtics teve pouco sucesso, e sofreu cestas 72% das vezes até o primeiro terço do terceiro quarto.

Porzingis voltou mais focado e finalmente encontrou sua primeira cesta de 3 pontos e, embora tenha sido focado por ter 2 faltas, conseguiu achar um flow e começou o quarto com três cestas em três tentativas.

A partir desse momento, todos os 5 titulares já tinham anotado 10 pontos ou mais, mostrando a falta de egoísmo no ataque do Celtics e como a bola rodou por todos. O espaçamento do Celtics se mostrou interessante com Oshae Brisset em quadra, quatro jogadores rodando fora do garrafão e priorizando o ataque no perímetro. Porzingis, sofrendo com as faltas, acumulou também uma falta técnica mas foi mantido em quadra por Mazzula, o que se mostrou uma sábia decisão, visto que imediatamente após isso, o letão conseguiu seu terceiro roubo de bola, mantendo a pressão sobre o Heat.

Durante os 3 quartos, o Celtics sofreu com os turnovers, acumulando 12 em comparação aos 9 de Miami, e embora o jogo tenha sido até então bem parelho, a sensação é que Miami conseguiu explorar o fato do Celtics ainda estar descobrindo as saídas para seus desafios nessa temporada.

Apesar da boa atuação no quarto, o Celtics penou para defender as bolas do perímetro de Miami e, principalmente, a grande mobilidade do Heat na área pintada, perdendo o 3º quarto por 33 x 27.

O último quarto

O último quarto foi um espetáculo à parte da dupla White/Brown.

Foram 11 pontos de Derrick White em 4-7 arremessos tentados e 12 pontos para Jaylen Brown em 5-7 arremessos. A dupla foi responsável por 71% dos pontos do time e como se não bastasse, defendeu em um nível absolutamente elite. Foi uma atuação em um nível tão superior que nem mesmo o sumiço de Tatum e a expulsão de Porzingis foram capazes de colocar em risco a vitória.

Com um início conturbado, o Celtics começou o quarto disputando ponto a ponto a liderança, assumindo de vez a frente com uma bola de três pontos de White no primeiro minuto. Em seguida, o time de Miami começou a jogar um jogo defensivo extremamente físico, dificultando a criação de espaço e forçando o Celtics a tentar buscar jogadas com seus jogadores mais rápidos.

Com 4 minutos no relógio, a jogada que mudou o jogo começou numa tentativa de arremesso de Jaylen Brown na cabeça do garrafão, bloqueada por Bam Adebayo. Tomando controle da bola, Jimmy Butler acelerou em transição para uma cesta que parecia garantida, até Derrick White aparecer e estapear a bola para longe, deixando Jimmy absolutamente desnorteado. Um toco daqueles.

Antes dessa jogada, Miami forçava uma reação que foi cortada até os minutos finais, quando Boston entregou a vantagem e levou 9 pontos em sequência, cortando a vantagem para apenas três pontos. Mas novamente, após cestas de White e Brown, Boston abriu vantagem e garantiu a sua segunda vitória na temporada.


Considerações finais

A principal consideração a se fazer, nesse contexto, é de que Celtics e Heat atualmente protagonizam a maior rivalidade entre as equipes da NBA. Das últimas quatro finais de conferência, três envolveram os dois times. Além disso, os confrontos durante a temporada regular se mostram sempre em um nível altíssimo.

Hoje não foi diferente, com ambas as equipes dando a vida no segundo jogo da temporada, com técnicos energizados na beira do parquet gritando jogadas e desafiando chamadas, com a torcida gritando e vibrando em todos os momentos cruciais. Tivemos a sorte de ver um jogo com clima de playoffs apenas na quarta noite de NBA da temporada.

Em relação ao jogo da equipe, foi possível observar diversos problemas, principalmente em relação ao enfrentamento que podemos proporcionar para defesas em zona e na seleção de arremessos. Mas alguns vislumbres de mudança já podem ser notados, como a disputa ávida por rebotes, a fisicalidade em ambos os lados da quadra e a seriedade com a qual nosso elenco está fazendo a leitura dos jogos. 

Foi a segunda partida da temporada em que usamos apenas 8-9 jogadores da rotação, o que claramente mostra que Mazzula está realizando testes e buscando encontrar as melhores opções para cada situação.


Por Daniel Victor Dias | Contribuição de Giovanni Sillas e Pedro Fava

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