Análise | InSeason Tournament

Melhor campanha na temporada regular e irregularidade em jogos decisivos marcaram a NBA Cup para o Boston Celtics.

Oportunidade de título desperdiçada pelo elenco celta trouxe luz à falta de opções confiáveis no elenco, displicência em momentos importantes e aquela velha sensação de ‘nada de novo no front’.

Adam Silver causou. Se alguém tinha alguma dúvida quanto à qualidade do evento proposto pelo comissário da NBA, essa dúvida já não existe mais. Com uma série de jogos eletrizantes e muita competição, o InSeason Tournament, popularmente chamado de NBA Cup, rapidamente caiu nas graças tanto das torcidas quanto dos próprios jogadores.

A oportunidade de vencer um título já no início da temporada, com direito à semifinal e final em Las Vegas, tornaram-se fatores mais que suficientes para motivar as equipes, principalmente aquelas sem muitas chances de brigar pelo banner ao fim da temporada regular. Essa foi a deixa perfeita para diversas franquias virarem a chave e apostarem alto.

Primeiro jogo – Nets 107 x 121 Celtics

A incursão celta começou com um bom duelo em casa contra o Brooklyn Nets, de Mikal Bridges e Spencer Dinwiddie. Piso novo, parquet estilizado e uma torcida simplesmente enfurecida e louca pela vitória. Primeiros sinais de que o torneio em si seria realmente diferente de tudo o que já vimos em um começo de campanha. Liderado por Jaylen Brown, com 28 pontos e Jayson Tatum, com 23, o Boston Celtics ainda contou com o excelente desempenho de Payton Pritchard, Sam Hauser e Luke Kornet.

O trio superou os desafios do início da temporada e proporcionou uma produção consistente ao longo da noite, garantindo ao Celtics sua primeira vitória no torneio, sem muitas dificuldades.

Segundo jogo – Celtics 108 x 105 Raptors

Na segunda partida da equipe, um duelo apertado em Toronto, contra uma equipe absolutamente motivada. Desde o pré-jogo, era possível sentir a energia da torcida dos Raptors, algo muito próximo da energia que nos acostumamos a ver em jogos de playoffs. Em quadra, a equipe da casa começou bem o jogo e alternou diversas ocasiões de vantagem no placar, no entanto, o Celtics alcançou uma boa vantagem de 16 pontos. Ainda assim, vimos o adversário encostar no placar e retomar a vantagem.

No fim, Boston conseguiu sobreviver a um ataque muito determinado. Foi mais uma grande partida de Jaylen Brown, com 23 pontos, que contou com bom suporte dos titulares, todos pontuando na casa dos dois dígitos e novamente, com atuações interessantes de seus bancários Sam Hauser e Al Horford, que combinaram para 22 pontos.

Terceiro jogo – Celtics 96 x 113 Magic

Enfrentando o Orlando Magic em sua casa, o Boston Celtics se deparou com um desafio bastante complicado, após vencer os Bucks de Giannis dois dias antes. A equipe tentou equilibrar a partida, mas, apesar do esforço inicial, foi superada por uma apresentação magistral (com o perdão do trocadilho) do trio formado pelos irmãos Franz e Mo Wagner, além de Paolo Banchero.

A adversidade foi intensificada pela ausência de jogadores importantes, como Jrue Holiday, e pela saída precoce de Kristaps Porzingis devido a uma lesão na panturrilha. Nem os 26 pontos de Jayson Tatum e os 18 pontos de Jaylen Brown foram capazes de frear o ímpeto de uma equipe jovem, que promete muito para o futuro da Conferência Leste.

Último jogo da fase de grupos – Bulls 97 x 124 Celtics

Com a derrota para o Orlando Magic, Joa Mazzulla precisou botar a prancheta de lado e procurar uma calculadora. Para os amantes do ‘esporte proibido’, já acostumados com as contas ao fim das fases classificatórias, o jogo final trouxe à tona um verdadeiro suco de ansiedade e desconfiança. Será que vai dar? Para avançar à fase semifinal, uma vitória simples não seria suficiente. O Celtics precisava vencer por 23 pontos ou mais, e ainda torcer por uma vitória do Brooklyn Nets frente ao Toronto Raptors.

A vitória veio, de forma acachapante, em um jogo de total e absoluto domínio da equipe celta, que demonstrou muito empenho, diante de um adversário sem grandes ambições. Mas ainda faltava aguardar pela outra vitória, que também veio, tendo o Nets finalmente superado os Raptors, garantindo ao Celtics o primeiro lugar no grupo e uma vaga direta nas quartas de final.

Quartas de final – Celtics 112 x 122 Pacers

No primeiro duelo com o Pacers na temporada, a equipe do Celtics conquistou uma vitória simplesmente avassaladora, pelo placar de 155-104, que estabeleceu um recorde recente da franquia. Tudo parecia tranquilo, mas um certo Tyrese Haliburton, ausente nesse primeiro embate, colocou um ponto de interrogação na cabeça dos torcedores celtas. E não foi à toa. Desta vez, a velocidade excepcionalmente intensa do Indiana, em ambos os lados da quadra, causaram um estrago e legitimaram um desafio considerável para a equipe de Mazzulla. A rapidez do time de Indiana não apenas espaçou a defesa do Celtics, mas também pareceu pressionar a equipe de Boston a realizar arremessos no modo ‘desespero’ e cometer inúmeros erros não forçados. Ao longo do jogo, o time visitante registrou 17 turnovers, em comparação com apenas 6 dos Pacers.

Somado a uma noite pouco inspiradora nos arremessos de longa distância, o Celtics não conseguiu encontrar o ritmo adequado, resultando em uma atuação desastrosa. Derrota duríssima, mas até certo ponto esperada. A ausência de Kristaps Porzingis, lesionado, foi sentida por todos nós, torcedores, e pela equipe, em quadra. Com KP a equipe celta teria uma alternativa viável ao tiro-porrada-e-bomba imposto pela equipe de Hield e Haliburton. Porzingis pode não ter a velocidade necessária para acompanhar uma equipe veloz como foi o Pacers (fazendo jus ao próprio nome), mas é um cara capaz de espaçar a quadra de ataque, algo que logicamente poderia equilibrar as coisas.

Considerações Finais

O ‘se’, seja na vida, seja no esporte, é algo que não existe e verdade seja dita, o Indiana Pacers tem sido uma equipe muito subestimada, deviso ao seu passado recente. Hoje, a equipe de Rick Carlisle certamente está entre as melhores do Leste e demonstrou potencial para fazer algum barulho num futuro não muito distante. Seriam capazes de parar o Boston em uma série de sete jogos? Dificilmente, mas essa é justamente a essência do mata-mata trazido para a Liga por Adam Silver. Em apenas um jogo, tudo – absolutamente tudo – pode acontecer. E aconteceu.

Inclusive, aconteceu de novo, pois no instante em que escrevo essa análise, o Pacers fez mais uma vítima improvável, desta vez, ao superar o Milwaukee Bucks, de Giannis Antetokoumpo e Damian Lillard, com mais um show coletivo e outro jogo zerado em turnovers do melhor armador da liga, disparado, Tyrese Haliburton. 

Terra arrasada?

Oficialmente eliminados do torneio, o Celtics voltará para casa para um jogo hoje à noite, contra o New York Knicks, que também perdeu sua partida de quartas de final, contra o agora também eliminado Bucks. O jogo é válido pela temporada regular e terá transmissão do NBA League Pass. Será uma ótima oportunidade para desfazer a péssima impressão que ficou após o final da partida contra Indiana, potencializado pelas falas de Jayson Tatum, em tom de completo desdém em relação à participação do Celtics na NBA Cup.

Terra arrasada? Jamais. A temporada continua, o recorde de 15-5 segue sendo o melhor da NBA e é inevitável escapar do lugar comum, em se tratando de esporte (talvez seja uma novidade para os fãs de basquete): melhor perder agora do que perder na hora que não pudermos perder. Há muito trabalho a ser feito, muitos ajustes do ponto de vista ofensivo, principalmente em se tratando da tomada de decisão na transição em velocidade. A derrota foi dura mas certamente serviu para algumas coisas, dentre elas o aprendizado, sempre necessário, e claro, para Brad Stevens abrir os olhos e começar a se mexer. Temos picks sobrando e uma necessidade que surpreende a um total de 0 pessoas de aprimorar a segunda unidade.

Para finalizar, esse torneio aproveitou o que há de melhor no esporte mais popular do planeta: a oportunidade para qualquer jogador, de qualquer equipe, fazer uma grande jogada no grande palco do basquete global. Há teto para o formato se desenvolver? A meu ver, sim. Com a possibilidade de o grande prêmio significar uma vaga garantida no Play-In (exemplo), teríamos o tipo de incentivo competitivo, algo necessário para diferenciá-lo da temporada regular. É pouco para as grandes equipes? Poderia transformar o torneio de uma vez por todas em um torneio específico para equipes de menor expressão? Só o tempo dirá. Quem sabe a garantia de mando de campo nos playoffs, ou… uma vitória do principal rival, classificado para a final?

É, pois é. Nada que não mude de figura a depender do resultado do próximo sábado em Las Vegas. Basta uma vitória da equipe californiana (já classificada para a final) para todo e qualquer torcedor celta cobrar o mesmo título na próxima temporada. É assim que rivalidades ressurgem, que rankings de maior equipe são atualizados e, por consequência, um torneio que até um mês atrás parecia não ter atributos suficientes para vingar, de fato, vire febre e se consolide.

Por Vicente Kresiak

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