Como as trocas acontecem na NBA?

Nos dias de hoje, a maioria dos fãs da NBA já teve a oportunidade de executar uma troca entre equipes. Quer seja pelo videogame, ligas de fantasia ou até mesmo pela trade machine, os torcedores podem sentir um gostinho do trabalho de um General Manager e experimentar o mercado de trocas. Consequentemente, essas possibilidades levam o torcedor à uma melhor compreensão sobre como a profissão de GM funciona. Por exemplo, fãs mais assíduos, estão mais informados quando se trata do Acordo de Negociação Coletiva (CBA), como os salários devem se alinhar para que um comércio seja concluído, o valor de certos ativos e até mesmo como os jogadores lidam com os rumores nas redes sociais.

No entanto, ao falar com muitos gerentes gerais e outros executivos sob a condição de anonimato, o site de notícias HoopsHype constatou que ainda existem muitos equívocos por parte do público sobre como os negócios são feitos na NBA. Eles perguntaram à essas pessoas o que é realmente ser um funcionário de front-office na NBA de hoje e como as trocas realmente são concluídas nos bastidores.

Muitas pessoas trabalham em cada transação

Cada um dos executivos que falou com o HoopsHype apontou que o maior equívoco é que a conclusão de um comércio é tão simples como um GM chamando outro GM pelo telefone. Isso às vezes é o caso, mas as equipes têm um monte de gente trabalhando na maioria das negociações.

O gerente geral tem a ajuda do assistente de GM, consultores, capólogos (especialista em cap), analistas, scouts e, por vezes, treinadores. Os proprietários da franquia também podem se envolver, dependendo da organização (e da importância do negócio). Enquanto o GM acumula muito poder e é o principal tomador de decisões do front office, o restante do staff também é muito importante. Os capólogos, estão sempre olhando para as finanças de outras equipes e determinando os movimentos que poderiam ser feitos por razões salariais. Por exemplo, eles vão olhar ao redor da liga para os atletas próximos ao vencimento de contrato que podem estar disponíveis porque sua equipe provavelmente não vai renovar pela quantia esperada. Eles também monitoram contratos de 10 dias, vagas abertas em elencos e franquias que precisam bater o piso salarial, fornecendo assim, informações cruciais para o GM e sua equipe. Às vezes, todos os detalhes de uma transação motivada por cap, será elaborada pelo capólogo, e o GM apenas faz a chamada e executa o negócio. Os GM’s afirmam que seus especialistas de cap estão constantemente apresentando movimentos potenciais que poderiam liberar espaço na folha salarial, as posições abertas no elenco, adicionar contratos expirantes, e depois avalia todas as possibilidades diferentes com sua equipe de funcionários.

Essa equipe também inclui os especialistas em análise. O tamanho (e influência) da equipe de análise varia de organização para organização. No entanto, na NBA moderna, a maioria dos escritórios valoriza bastante a opinião de sua equipe de análise. Esses indivíduos estão lá para fornecer insights sobre potenciais aquisições, enquanto também vasculham atletas com bom custo-benefício – free agents ou possíveis alvos subvalorizados, mas que ainda assim forneceriam ótimos ajustes para sua equipe.

Os scouts também são importantes, pois estão constantemente reunindo informações sobre jogadores e prevendo o que outras equipes podem fazer. Trazendo para o contexto brasileiro, seria uma função parecida com a do “olheiro”. As equipes raramente querem mostrar suas estratégias, e GM’s querem o máximo de informação possível sobre o pensamento de outras equipes e suas motivações. Não é incomum vermos um negócio concluído, ter começado com um executivo de nível inferior recebendo algumas informações e a transmitindo para seus superiores.

Até os jogadores que passaram um longo tempo jogando na NBA, quando assumem uma posição de gestão, acabam sendo surpreendidos com as complexidades do front office. Isso ocorre porque os jogadores dificilmente têm uma visão completa do que está acontecendo nos bastidores e é difícil para eles entenderem o valor de certas coisas (como uma exceção comercial ou escolhas de draft) até que estejam do outro lado.

Além disso, é importante lembrar que os jogadores da NBA também são pessoas. Relacionamentos nos bastidores podem complicar um negócio. Quando você, torcedor, está brincando na trade machine, não está olhando para cada jogador como um ser humano. Enquanto isso, um executivo pode ver alguém que passa por problemas familiares, ou alguém que tem ajudado muito a química e o entrosamento da equipe, alguém que é um líder importante no vestiário, alguém que tem mais valor para essa organização do que para a outra equipe envolvida na troca, ou alguém que tem demonstrado enorme crescimento ao longo do tempo mas ainda não despontou. 

Alguns executivos tentam permanecer o mais afastado possível para que assim possam fazer os movimentos necessários e avaliar com precisão os seus ativos. 

Equipes e agentes vazam informações para a mídia por diferentes razões

Que fique bem claro: quase todo executivo iria preferir que suas negociações não escapassem para a imprensa. Rumores de troca podem perturbar um jogador e afetar seu desempenho dentro das quadras, e ao mesmo tempo, desvalorizar ativos e prejudicar a negociação de um GM.

Alguns GM’s relataram que existem algumas franquias que falam com a imprensa quase que imediatamente após alguma conversa; sendo assim, eles não se sentem à vontade em discutir uma troca de jogadores com essas equipes, a menos que seja absolutamente necessário. Isso significa que algumas equipes podem ter perdido uma possível troca só porque não conseguem ficar quietas. Alguns agentes (representantes de jogadores) também têm uma reputação de vazar informações, então eles também são deixados por vezes no escuro quando as discussões envolvendo seus jogadores estão ocorrendo.

Executivos afirmam que a maioria das conversas comerciais ocorrem pessoalmente ou por telefone, uma vez que as informações em discussão são sigilosas. Então, por que algumas informações vazam para a imprensa?

Um GM disse que já viu jovens executivos vazarem coisas para a mídia porque esperam que isso possa ajudá-los na carreira profissional. Como eles querem ser GM’s um dia, acreditam que ter a mídia à seu lado pode ajudá-los. Alguns executivos também trocam informações com a imprensa, fornecendo informações para descobrir algo em troca, sobre uma determinada equipe ou jogador.

No entanto, a maioria dos executivos disse que encontrar a fonte do vazamento é geralmente muito simples: basta ver quem mais se beneficia com a história vindo à público.

Todos os GM’s disseram que a maioria dos vazamentos ocorrem quando uma equipe está tentando gerar um mercado para o seu próprio jogador ou escolha de draft. Um GM também acrescentou que algumas equipes podem vazar suas próprias conversas na esperança de amargar uma relação entre um jogador que estão tentando obter e sua equipe atual. A ideia aqui é criar desconfiança entre o jogador e o front office, o que aumenta a probabilidade de uma troca pois o jogador estaria infeliz e pode querer sair.

“Por exemplo, pegue o Boston Celtics”, disse o GM. “Se eu estou na posição do Danny Ainge, eu teria vazado todas as conversas sobre Jimmy Butler, Blake Griffin, Paul George e outras estrelas. Isso potencialmente aumentaria o valor das minhas escolhas do Nets que possuo, como poderia me ajudar a ter uma dessas estrelas se o jogador souber do rumor e ficar chateado com sua equipe.

Onde há fumaça há fogo

Com que frequência a mídia acerta? Os fãs adoram rumores e relatos, mas quanto do material que estão consumindo está correto?

Executivos disseram que depende da fonte. Por exemplo, quase todos os executivos levantaram Adrian Wojnarowski (mais conhecido apenas como Woj) do The Vertical como sendo extremamente preciso. Se Woj relata algo, é porque ele tem fontes fortes e raramente traz informações infundadas. Zach Lowe da ESPN também foi mencionado como sendo muito confiável e ter um bom senso do que está acontecendo dentro da equipe sobre a qual está escrevendo. Vários executivos acrescentaram que você pode colher um monte de informações sobre entrosamento, mentalidade de um jogador e o que um front office está procurando fazer a partir do conhecimento dos repórteres correspondentes, uma vez que eles vivem o dia-a-dia da equipe.

Quando se trata de notícias oriundas de outros jornalistas famosos como Marc Stein, Sam Amick, Brian Windhorst, David Aldridge, Ramona Shelburne, Marc Spears, entre outros, a maioria dos GM’s disse que  “onde há fumaça, há fogo”. Mesmo se o relato não é 100% certo, há normalmente alguma verdade nele. Eles conversaram com alguém que sabe quem lhes contou a informação. Talvez a conversa que está sendo referenciada é ultrapassada ou as conversas relatadas são colocadas fora de proporção, mas as notícias de fontes legítimas são raramente fora de contexto.

Com isso dito, vários executivos expressaram frustração com notícias que indicam que uma equipe “teve discussões internas sobre um jogador” ou que duas equipes tiveram uma “conversa” sobre um jogador específico. Normalmente, essas notícias não contam a história toda. Uma equipe pode ter ligado para saber sobre um jogador e a conversa foi imediatamente encerrada, mas eles tecnicamente tiveram “uma discussão”. E discussões internas sobre jogadores acontecem o tempo todo.

A Trade Deadline é o ponto culminante de um MONTE de trabalho

Os escritórios trabalham durante o ano todo para coletar informações e encontrar maneiras de melhorar sua equipe. Embora cada troca seja muitas vezes classificadas ou julgadas ao léu, os executivos devem ter uma perspectiva de longo prazo e estão constantemente fazendo movimentos para permitir outras transações no caminho.

Por exemplo, um GM relembrou um comércio que sua equipe fez na penúltima trade deadline. Ele tinha o jogador que adquiriu como alvo por um bom tempo, e o acordo só foi possibilitado por pequenas transações que sua equipe fez no ano que antecedeu a negociação final.

As equipes começam a coletar informações sobre os jogadores logo durante o processo de pré-draft, quando entrevistam os jovens prospectos. Todos os anos, no Draft Combine, há um monte de relatórios sobre com quais equipes cada prospecto irá se reunir, no evento que acontece em Chicago. Muitas equipes usam suas entrevistas pré-draft para começar a construir um arquivo de cada jogador. Este arquivo é continuamente atualizado. Por exemplo, se um jogador muda de equipe na free agency, é normal alguns executivos chamarem a ex-equipe do atleta para perguntar sobre o indivíduo e aprender mais sobre o que ocorreu durante o tempo dele lá. Isso é feito para que, se a oportunidade de adicionar este jogador se apresentar, a equipe já esteja preparada e entender com mais detalhes possíveis quem eles estão trazendo.

As equipes mantém diálogos o ano inteiro. Um executivo percorreu as diferentes etapas de “conversas”. No começo da temporada, ninguém quer revelar sua estratégia, até porque os executivos querem ver como sua equipe vai desempenhar. Então, à medida que a temporada avança, as conversas se tornam mais frequentes e o executivo já terá uma idéia melhor de quais jogadores podem ser negociados e quais equipes estariam interessadas em seus jogadores. Quando a trade deadline finalmente chega, as equipes estão muito mais escolhendo quais conversas continuar do que começando uma negociação completamente nova.

Além disso, quando uma equipe está oferecendo um jogador, eles são seletivos sobre com quais equipes eles vão conversar. Isso é feito não somente para evitar vazamentos, mas entenda que oferecer seu jogador à todas as equipes pode desvalorizar seu ativo e prejudicar sua negociação, uma vez que ficou claro que você está decidido à mover o jogador. É por isso que há casos em que você vai ouvir executivos ficando frustrados pois não foram chamados antes de uma troca ser concluída. Isso ocorreu recentemente quando o Sacramento Kings trocou DeMarcus Cousins ​com o New Orleans Pelicans. Várias equipes interessadas em Cousins ​​não receberam ligações de Sacramento porque o proprietário Vivek Ranadive sentiu que a oferta do Pelicans era a melhor disponível, e que poderia ser abaixada se esperassem e conversassem com outras equipes. Nota: Os outros executivos discordam, em consenso geral, de que os Kings aceitaram uma oferta relativamente fraca e que a oferta do Pelicans ainda estaria na mesa se Sacramento tivesse considerado outras opções.

É também por isso que as relações entre executivos é importante. Não é nenhuma coincidência que nós vemos frequentemente as mesmas equipes comerciando entre si. Executivos falam com seus amigos mais vezes, o que significa que há mais conversas comerciais também. Há também a confiança de que as coisas não serão vazadas para a mídia e, como um executivo disse, “não haverá qualquer jogo sujo.”

As relações são importantes. Geralmente há alguma verdade quando algo é noticiado. A profissão de GM é mais complexas do que parece. Os vazamentos podem ser implantados como uma arma, mas eles podem prejudicar essa equipe no longo prazo. E esse foi apenas um pedaço dos bastidores da NBA.  

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Respostas de 14

  1. Então quer dizer q o Ainge tem um monte de assistentes trabalhando pra ele e msm assim não consegue fechar uma simples troca?
    Ainge Ainge, tua batata ta assando….

    1. Francisco, o apelido do cara não é Trade Dany a toa. Como exemplo da uma olhada na temporada 13/14, só como um caso mais recente.

      Veja q 2 dos nossos titulares atuais, IT e Crowder, são frutos de trocas. Só para não ficar só nas boas, Perkins x Green 2011. Te garanto que não falta capacidade ou peito para fazer. Falta sim aparecer um bom negócio ou um suposto bom negócio.

      Sobre essa deadline, os negócios estavam foçados em George e Buttler, mas o preço era muito alto. E os negócios marginais, PJ, Jones etc, pelo q li não interessavam o Brad. No buyout os jogadores não quiseram vir pq a chance de permanecer em Boston ano q vem é nula.

      Há sobre a batata dele estar esquentando, creio que não está não. No verão passado ele, e o Brad também por sinal, renovaram , antecipadamente, por mais 6 anos.

      Agora me responda para que fazer um Trade apensas para mexer peças e não mudar o time de patamar?

      Let’s go Celtics!

    2. Acho que vc não entendeu. A matéria é bem clara, Ainge não tem 100% de autonomia em nenhuma decisão, é um trabalho de equipe, logo ele só faz um negócio que atende ao planejamento.

      Também fiquei frustado por não conseguir ninguém no período de trocas, mas temos que ser racionais, questionar o trabalho do Ainge e sua equipe é patético, visto o time que está sendo construído e todas as nossas possibilidades futuras

  2. 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
    Raramente conseguimos ler matérias tão ricas de informações de bastidores como essa!
    Pra mim, que sou um torcedor leigo fico empolgado com esse tipo de informação, da pra imaginar como as coisas acontecem verdadeiramente!
    Parabéns a todos que fazem parte desse Blog!!!

    1. Muito obrigado Renato, um dos nossos objetivos aqui no site é simplificar e esclarecer alguns assuntos relacionados à Celtics e NBA. Fico feliz que essa matéria trouxe um conteúdo interessante pra vocês

  3. Bela matéria.
    As vezes me pergunto se existe a necessidade desse enorme staff (certamente Bird em Indiana e Riley em Miami devem dispensar diversos desses asessores) para algumas atividades envolvendo negociação somente.
    Os GMs nais bem sucedidos são mais estilo moneyball e pescadores de estrelas do que estilo paizão (exceção feita aos Spurs).

    []s verdes

  4. A matéria foi excelente e demonstra muito bem como é complexa a função de GM.

    A importância da informação, dos relacionamentos, dos contatos e assessores.

    Certamente há GM que não engole GM, vaidade, desconfiança, mas também amizade entre alguns.

    Há ainda casos que o palpite do dono da franquia define tudo.

    Neste ponto, parece que no nosso caso há profissionalismo.

  5. A maioria dos rumores que são postados são FALSOS ou pelo menos incompletos.

    O artigo focou mais nos GMs, mas tem o lado dos empresários de jogadores.

    Esses é que são responsáveis pela gigante maioria dos rumores, para valorizar seus atletas.

    Não sei como é na NBA, mas acredito que aconteça o mesmo que ocorre aqui, onde empresários PAGAM para jornalistas pra plantarem notícias sobre seus clientes.

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