Conheça Benas Matkevicius, o olheiro do Celtics na Europa

Benas Matkevicius poderia passear despercebido pelas ruas de Boston se quisesse, mas hoje ele é uma das partes mais essenciais na operação do Boston Celtics. Sua tarefa é simples, mas também maciça cansativa. Ele precisa identificar, acompanhar e avaliar os prospectos de basquete em todo um continente a partir de seu escritório na Europa, viajando apenas consigo próprio para assistir aos jogos.

“Não é nada fácil”, disse Matkevicius, rindo. “No começo, eu fiquei atordoado em trabalhar assim. Demorou um tempo para me organizar e ir descobrindo todos os prós e contras da profissão.”

Nos últimos dois anos particularmente, o Celtics esteve bastante focado na Europa. Em 2016, eles selecionaram o francês Guerschon Yabusele e o croata Ante Zizic. Depois, no ano seguinte, assinaram com o alemão Daniel Theis e repatriaram o armador Shane Larkin, que passou a temporada passada jogando na Espanha.

Com quase todo o esforço voltado para o basquete universitário, e por motivos logísticos, a pequena equipe de olheiros de Boston, não conseguia ter uma presença constante no exterior. Sendo assim, a organização sentiu a necessidade de contratar Matkevicius para auxiliar nessa tarefa: ele chegou para ser o único funcionário e olheiro do Boston Celtics na Europa e acabou desempenhou um papel fundamental em todas essas adições recentes.

“Benas tem uma ética de trabalho incrível”, disse o gerente de operações do Celtics, Danny Ainge. “Ele parece ser simplesmente incansável”.

UMA TRANSIÇÃO ÚNICA

Matkevicius nasceu na região da União Soviética que agora é a Lituânia. Sua família mudou-se para a Alemanha quando ele tinha 5 anos pois seu pai assinou contrato para jogar em uma equipe profissional do basquete alemão.

Matkevicius tornou-se um bom jogador também. Ele chegou aos Estados Unidos para terminar o ensino médio em Shreveport. Antes de ganhar uma bolsa de estudos para a Arkansas-Monticello, faculdade que pertence à Divisão 2 do universitário. Sua breve carreira profissional em Cuxhaven, na Alemanha, foi interrompida por lesões, e ele se tornou assistente técnico lá antes de trabalhar como assistente do CSKA Moscou, poderosa equipe da Euroliga.

No verão de 2012, Matkevicius estava sentado nas arquibancadas assistindo um torneio sub-18 na Polônia, quando o diretor do Celtics, Austin Ainge, se aproximou e se apresentou. Os dois conversaram bastante durante o Torneio e mantiveram contato depois.

Austin Ainge ficou impressionado com o conhecimento e minuciosidade de Matkevicius, e assim que o Celtics acenou com a possibilidade de contar com um olheiro na Europeu em 2014, a escolha já era óbvia.

Para Matkevicius, a idéia de avaliar os jogadores de basquete – mesmo para a equipe mais vitoriosa do mundo – não era assustadora. Ele já tinha um olhar para identificar habilidades, e havia desenvolvido uma profunda rede de contatos. Mas é claro que durante o caminho surgiram desafios únicos.

Como jogador e treinador, os dias eram sempre planejados para Matkevicius. Ele sabia o calendário exato da temporada, ele nunca foi encarregado de reservar um vôo ou hotel, as refeições estavam prontamente disponíveis e ele nunca esteve completamente sozinho na jornada.

Agora ele teria que se tornar um viajante, aprender línguas, programar e agendar suas viagens, muitas vezes para cidades distantes, as quais ele nunca visitaria se não houvesse um jogador de basquete de interessante para conhecer.

“O mais difícil é quando você está trabalhando em um escritório de um homem só”, disse Austin Ainge. ” Benas é tão aplicado e orientado para os detalhes. Ele trabalha, trabalha e trabalha… desse jeito a vida pode ficar difícil, permanecer motivado sozinho na estrada o tempo todo. Mas no entanto, ele é incrível. Parece que nunca se cansa, ele observa e analisa vídeos constantemente em todas as suas viagens. Sem dúvida ele se tornou um grande ativo pra nossa organização”.

OSSOS DO OFÍCIO

Matkevicius tem como “base” a cidade de Berlim, mas sua estadia é sempre temporária. Nos últimos dois anos, ele acumulou cerca de 300.000 milhas aéreas, isso sem mencionar todos os percursos de trens, ônibus e carro. É comum que ele esqueça o número do quarto do hotel, porque a troca é muito rápida e não há tempo para se acostumar.

Matkevicius acorda cedo todas as manhãs já tomando o primeiro de muitos copos de café. Se o Celtics jogou na noite anterior, ele começa o dia assistindo o replay da partida. Em parte porque ele está intrigado ao ver os jogadores que ele ajudou a trazer para Boston, mas principalmente porque ele quer se familiarizar mais com o estilo e o sistema da equipe. Ele quer ter um conhecimento íntimo do tipo de jogadores que Danny Ainge está procurando. Depois de assistir o Celtics, Matkevicius verifica os box-scores de todas as ligas européias, uma tarefa particularmente longa e repetitiva.

Para ter como referência, ele também assiste a replays de jogos da NCAA que apresentam prospectos de nível NBA. Um ala de 18 anos na Espanha, por exemplo, pode parecer bastante empolgante. Mas então, quando Matkevicius assiste aos jogos de um jovem como Jayson Tatum, pode precisar reajustar sua avaliação do espanhol.

Apesar de sua pesada carga de trabalho e um enorme território para cobrir, Matkevicius não está totalmente isolado. Ele troca mensagens com Austin Ainge quase todos os dias e envia e-mails para a equipe três ou quatro vezes por semana. Ainge pode dar instruções a Matkevicius sobre alguns prospectos que ele gostaria que fossem estudados, ou Matkevicius pode compartilhar informações sobre um jogador que está se destacando.

Austin Ainge visita a Europa cerca de cinco vezes por ano, mas ele e Matkevicius costumam se separar para que assim possam cobrir mais terreno. O diretor de olheiros Dave Lewin também viaja ao exterior para conhecer alguns jogadores, e Danny Ainge geralmente faz pelo menos uma viagem para a Europa por ano. O Celtics também têm o olheiro brasileiro Luiz Lemes, e o staff em Boston sempre penteia listas de jogadores do mundo todo.

A facilidade de vídeos editados em algumas das viagens e aplicativos de mensagens ​​tornaram o trabalho de olheiro muito mais conveniente do que era. Mas não há nada melhor do que ver um jogador ao vivo pessoalmente. E na maior parte do tempo na Europa, essa responsabilidade cabe à Matkevicius.

“A parte de construir relações é realmente o maior desafio”, disse Matkevicius, “porque o fluxo de informações é realmente importante. E durante o ano, quanto melhor as relações que você constrói, mais confiança você tem e o fluxo de informações se torna uma via de mão dupla”.

NA ESTRADA NOVAMENTE

Para Matkevicius, viajar pela Europa pode ser solitário e revigorar tudo ao mesmo tempo. Ele viu pelo menos um jogo em todos os países europeus, e alguns ginásios são mais convenientes e tranquilos do que outros.

Austin Ainge lembrou de um jogo em Atenas quando uma ameaça de bomba parou o jogo, e um jogo em Varazze, na Itália, quando um fã irritado jogou um sapato em um árbitro e o árbitro simplesmente o jogou de volta para ele, e o jogo continuou. Além disso, teve o jogo dos playoffs na liga croata há duas temporadas, quando um grupo de torcedores iniciou uma fogueira nas arquibancadas usando a bandeira da equipe adversária.

“E eles não pararam o jogo”, disse Ainge. “Eles apenas vieram com alguns extintores e apagaram. Havia fumaça na arena toda, e mesmo assim continuaram jogando “.

Matkevicius vê centenas de jogadores a cada ano, mas é muito mais provável que um jogador não se torne jogador do Celtics do que seja recrutado. Pensando dessa forma, suas tarefas são ingratas.

“No trabalho de olheiro 90% do trabalho é apenas riscar jogadores da lista” disse Austin Ainge.

Os clubes europeus não estão nem um pouco focados na realização de eventos para ajudar equipes da NBA. Ou seja, quando um prospecto de 18 anos ainda não é um dos melhores jogadores em seu time, o treinador pode optar não escalar ele. Ou, às vezes, Matkevicius pode fazer grandes esforços para ver um jogador, mas aí ele comete faltas rápidas e precisa ir para o banco.

Matkevicius também é auxiliar técnico da seleção da Lituânia, de modo que isso lhe dá a chance de ver ainda mais jogadores durante torneios e eventos fora de temporada.

A LINGUAGEM DO JOGO

O lituano era o idioma principal em sua casa, mas Benas frequentou escolas na Alemanha e nos Estados Unidos, e aprendeu inglês assistindo os filmes da Disney. Ele também está tentando aprender espanhol agora, de modo que as barreiras linguísticas não são tão assustadoras para o mundo do basquete.

Grande parte do processo de busca envolve avaliação de talentos, mas a comunicação também é essencial. Se o Celtics estiver interessado em algum jogador, eles entrarão em contato com o staff técnico da equipe, e mesmo quando o idioma é familiar, é possível que as avaliações se percam na tradução.

“As coisas que os treinadores valorizam nos jogadores são diferentes em todas as culturas”, disse Austin Ainge. “Então, quando falo com um assistente técnico sobre um jogador, as coisas com as quais eles ficam entusiasmados ou frustrados são muito diferentes do que em um outro país”.

Isso também apresentou um desafio para Matkevicius, porque inicialmente ele tinha apenas um conhecimento superficial do jogo da NBA. Mas agora ele está muito mais confortável. Ele prefere manter-se discreto quando está observando os jogadores. Ele geralmente se veste com um casaco esportivo esporte em vez de uniforme do Celtics. Ele viu Theis jogar em Bamberg, Alemanha, muitas vezes nas últimas temporadas, e Theis sabia que ele era um olheiro da NBA, mas nunca soube para qual equipe ele trabalhava.

Para Matkevicius, alguns dos momentos mais gratificantes vêm quando ele assiste um jogo do Celtics e vê jogadores como Theis e Yabusele em quadra. É o lembrete mais claro e tangível de que sua incomum linha de trabalho produz resultados.

“Às vezes você se senta no avião, olha pela janela e percebe o tipo de trabalho que você tem”, disse Matkevicius. “A vida está passando pela janela, mas o basquete é o que sempre quis viver”.

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