Sumário
ToggleDesde que assumiu o comando do Boston Celtics, Joe Mazzulla se tornou uma das figuras mais controversas da NBA. Jovem, promissor e adepto de uma filosofia de jogo moderna, ele carrega ao mesmo tempo a responsabilidade de liderar uma das franquias mais tradicionais da liga e o peso da desconfiança de parte da torcida. Sua trajetória à frente da equipe é um reflexo perfeito da linha tênue entre o sucesso e a pressão que define o ambiente competitivo de Boston. Neste texto, vamos analisar os pontos fortes e as principais críticas ao trabalho de Mazzulla, explorando os desafios que ele enfrenta para consolidar seu nome como o técnico na primeira prateleira da NBA.
Joseph “Joe” Mazzulla
Joseph “Joe” Mazzulla, atual treinador do Boston Celtics, assumiu o cargo principal da equipe de maneira inesperada antes do início da temporada 2022-23, após a suspensão de Ime Udoka. Sua trajetória no comando da equipe tem sido marcada por altos e baixos, o que faz com que ele seja tanto admirado quanto criticado pela torcida.

Nascido em 30 de junho de 1988, Mazzulla teve uma carreira modesta como jogador universitário em West Virginia antes de se dedicar à carreira de treinador. Ele começou como assistente técnico em Fairmont State e passou por diferentes funções antes de ingressar no Boston Celtics como assistente técnico em 2019. Sua promoção a treinador principal aconteceu nesse contexto turbulento, após a suspensão de Ime. Cercado por todo aquele suspense, ele rapidamente assumiu e demonstrou toda a sua capacidade ao liderar a equipe a uma temporada regular sólida e quase chegar às finais.
Considerando a derrota no sétimo jogo das finais da Conferência Leste, contra Miami, como um jogo incomum – lembrando que Jayson Tatum se lesionou nos primeiros instantes da partida -, a derrota foi mais circunstancial do que qualquer outra coisa. Mas muita gente ainda insiste que mesmo sem JT o destino daquela partida poderia ter sido outro caso tivéssemos outro treinador no comando da equipe. Será? Uma pergunta que ficará sempre sem uma resposta.
Sob sua liderança, no entanto, o Celtics teve um desempenho notável já na temporada seguinte, com absoluta dominância durante a regular e também nos playoffs, que culminou no título da NBA de 2023-24. Vamos aos fatos.
2022-23:
Temporada Regular: a equipe terminou com um recorde de 57 vitórias e 25 derrotas, liderando a Divisão do Atlântico.
Playoffs: Boston avançou até as finais da Conferência Leste, mas foi derrotada pelo Miami Heat naquele fatídico jogo sete.
2023-24:
Temporada Regular: o time melhorou seu desempenho em relação à temporada anterior, alcançando 64 vitórias e 18 derrotas, a melhor campanha de toda a liga.
Playoffs: após vencer seus oponentes sem muita dificuldade, a equipe conquistou o título da NBA ao derrotar o Dallas Mavericks nas finais em cinco jogos.
Atualmente, Mazzulla possui a maior porcentagem de vitórias entre os técnicos com mais de 150 jogos na história da NBA. Além disso, ele é o técnico mais jovem a conquistar um título desde Bill Russell em 1969.
Com Mazzulla na linha de frente, o Celtics adotou uma estratégia ofensiva focada em arremessos de três pontos. Para se ter uma ideia, no jogo de abertura da temporada 2024-25, a equipe tentou 61 arremessos de três pontos, igualando o recorde histórico da NBA com 29 acertos.
Já em fevereiro de 2025, o time protagonizou uma virada histórica contra o Philadelphia 76ers, superando uma desvantagem de 26 pontos no último quarto para vencer por 118 a 110. Esses resultados destacam a eficácia de Mazzulla como técnico, refletida nas estatísticas e no sucesso da equipe de maneira geral.
Números de Joe Mazzulla à frente do Boston Celtics
– 3 temporadas (contando com a temporada que está em andamento)
– 237 jogos totais
– 175 vitórias
– 62 derrotas
– .737 w/l
– 55.5 wins over .500
– 39 jogos de playoffs
– 27 vitorias em playoffs
– 12 derrotas em playoffs
– .692 w/l playoffs
– 1 TÍTULO DE CONFERÊNCIA
– 1 TÍTULO DA NBA
Um treinador querido…
Entre os principais motivos para a admiração de Mazzulla está a sua capacidade de manter a identidade competitiva do Boston Celtics mesmo em meio às adversidades. Sob seu comando, a equipe manteve um dos melhores desempenhos da liga, com uma defesa sólida e um ataque eficiente. Ele também mostrou confiança em seu elenco, dando liberdade para que jogadores como Jayson Tatum e Jaylen Brown assumissem maior protagonismo, além de trazer, nessa temporada, Payton Pritchard para um lugar de destaque. Outros jogadores, como Sam Hauser e Luke Kornet desempenham papéis fundamentais nas rotações lideradas pelo treinador.


Outro ponto positivo de sua gestão é sua abordagem inovadora do basquete. Mazzulla é um defensor de uma mentalidade ofensiva moderna, priorizando arremessos da linha de três pontos e trabalhando o espaçamento de quadra. Essa filosofia tem rendido bons frutos, colocando o Celtics entre as melhores equipes ofensivas da NBA ano após ano. Seu foco no aproveitamento estatístico também o aproxima de treinadores modernos que baseiam suas decisões em análises aprofundadas do jogo. Joe já deixou claro em diversas oportunidades que assiste aos jogos por horas e horas, buscando ajustes e revendo pontos, tanto positivos quanto negativos, a fim de corrigi-los quando necessário, ou de aprimorá-los. Mazzulla também traz em sua bagagem um lado humano muito forte, com ênfase nas relações que permeiam o jogo, criando laços com seus jogadores, com o corpo diretivo e, logicamente, com boa parte dos fãs.
Um treinador questionado…
Apesar dos elogios, Mazzulla enfrenta críticas severas de parte da torcida. Um dos principais pontos de insatisfação está em sua falta de experiência como treinador principal. Muitos torcedores questionam sua capacidade de tomar decisões em momentos cruciais, especialmente em jogos grandes. Durante a temporada 2022-23, o Celtics teve dificuldades nos ajustes táticos em séries decisivas, o que gerou dúvidas sobre sua capacidade de comandar uma equipe com aspirações ao título daquela season.
Outro fator de contestação é sua rigidez tática. Há momentos em que Mazzulla insiste em determinadas estratégias, como a priorização excessiva dos arremessos de três pontos, mesmo quando o jogo pede variações ofensivas. Além disso, sua gestão de timeouts e da rotação de jogadores é frequentemente criticada por torcedores e especialistas, que acreditam que ele poderia utilizar melhor o elenco em determinadas situações. Raros são os jogos em que Mazzulla não dá oportunidades para jogadores que também são questionados por parte da torcida, como Luke Kornet, por exemplo. Mas vai colocar quem no lugar? Tillman? Ou um poste?


A relação de Mazzulla com a imprensa e sua postura em entrevistas também dividem opiniões. Ele adota uma abordagem direta e, por vezes, evasiva ao responder perguntas, o que causa frustração em alguns torcedores que esperam explicações mais detalhadas sobre suas decisões. Essa postura mais reservada contrasta com a personalidade de treinadores mais carismáticos e midiáticos, tornando-o um alvo fácil para críticas.
Um treinador campeão…
Ainda assim, a diretoria do Celtics demonstra confiança em Mazzulla, principalmente após o título da temporada passada, renovando seu contrato e dando-lhe respaldo para continuar implementando sua filosofia de jogo. O sucesso da equipe sob seu comando também reforça a ideia de que ele tem potencial para evoluir e se tornar um dos grandes técnicos da liga, desde que consiga corrigir suas deficiências.
A torcida do Boston Celtics, conhecida por sua paixão e exigência, continuará dividida enquanto Mazzulla não provar, de maneira definitiva, que pode levar a equipe a mais um título da NBA. Não leu errado, é isso mesmo, mais um título (como se um não fosse bom o bastante para enaltecermos o seu trabalho). Enquanto alguns enxergam nele um jovem treinador promissor, outros o veem como alguém que ainda precisa amadurecer para estar à altura da grandeza da franquia. Em termos de Boston Celtics, diga-se: UM TREINADOR CAPAZ DE LIDERAR A EQUIPE RUMO A UMA DINASTIA.


O futuro de Mazzulla à frente dos Celtics dependerá muito de sua capacidade de aprendizado e adaptação. Se conseguir ajustar suas decisões estratégicas e mostrar evolução nos momentos decisivos, poderá consolidar sua posição e conquistar de uma vez por todas a confiança da torcida. Caso contrário, as críticas continuarão e a pressão para uma mudança no comando técnico poderá se tornar insustentável (em se tratando de esporte, nenhuma possibilidade é simplesmente descartável, mesmo sabendo que no basquete as trocas de técnico não ocorram frequentemente).
Opinião
O trabalho de Joe Mazzulla à frente do Boston Celtics representa muito bem o perfil de um técnico moderno, mas ainda carrega o peso dessa pouca experiência – algo natural para um treinador tão jovem colocado subitamente sob enorme pressão.
Mazzulla mostrou méritos ao manter o time competitivo em meio a uma crise institucional, o que não é pouca coisa. Ele preservou a estrutura defensiva deixada por Ime Udoka e incrementou o ataque com uma abordagem mais ofensiva, focada no volume de arremessos de três pontos e na eficiência estatística. Isso fez com que o Celtics terminasse a temporada 2023-24 com o título, o que reforça sua competência na condução da equipe.


No entanto, o que mais pesa contra ele – e com razão – é uma certa dificuldade em momentos decisivos, principalmente no que diz respeito ao desempenho do time nos jogos que realmente contam. Faltam a Mazzulla algumas respostas táticas quando o jogo fica aberto, além de uma leitura mais ágil para ajustar as rotações ou quebras de sequências negativas (runs). Em jogos de alto nível, essa limitação aparece de forma clara e acende o sinal de alerta sobre até onde ele pode levar um grupo que, aparentemente, já está próximo de alcançar o seu auge técnico.
Resumindo, vejo o Mazzulla como um técnico promissor, que tem o vestiário nas mãos e sabe o que quer, mas que ainda precisa aprimorar as tomadas de decisão sob pressão. Se ele conseguir evoluir nesse aspecto – o que é totalmente possível -, pode sim se tornar o treinador certo para dirigir o Celtics rumo a novos títulos. Caso contrário, a janela de Boston pode se fechar antes dele estar finalmente pronto para dar conta de uma dinastia. Lógico, dinastias não são simples, baseiam-se em construção no curto, médio e longo prazo e às vezes parece ser apenas um privilégio designado à essa louca e apaixonada torcida, mas… fazer o quê? A qualidade da equipe, aliada à estrutura deixada por Wyc Grousbeck nos inclina a pensar que essa equipe só não ganhará mais de um título nessa janela se não quiser.
Conclusão
O amor e o ódio que cercam o trabalho de Joe Mazzulla à frente do Celtics refletem muito mais o peso da camisa que ele veste do que propriamente sua competência ou incapacidade. Boston é uma das franquias mais tradicionais e exigentes da NBA, com uma torcida acostumada a grandes conquistas e intolerante a qualquer sinal de desperdício de talento – especialmente em um elenco que, ano após ano, figura entre os francos favoritos.
O lado que o ama enxerga em Mazzulla um técnico jovem, familiarizado e alinhado com a modernidade do jogo. Ele potencializou o ataque, valorizou o espaçamento, deu protagonismo absoluto a Jayson Tatum e Jaylen Brown e manteve o time sempre competitivo apesar da pouca profundidade de elenco. Seu perfil mais frio, analítico e focado em números agrada quem vê o basquete atual como um jogo de probabilidades e eficiência.
Por outro lado, quem o critica sente falta da “alma” do jogo – aquela leitura humana que muitas vezes foge aos dados. Mazzulla ainda demonstra dificuldade em reagir a momentos de instabilidade, demora a pedir tempo quando a equipe desaba, insiste no volume de três pontos mesmo em dias ruins e, principalmente, ainda não convence 100% como um líder capaz de fazer a diferença nas horas mais difíceis. Isso alimenta a sensação de que, com outro técnico, o time poderia se manter no topo sem a pressão que acompanha sua pouca experiência.


No fundo, o amor e o ódio em torno de Mazzulla são o retrato do abismo entre o que ele já entrega – um trabalho sólido de temporadas regulares e um título – e o que a torcida espera: um treinador de pulso forte, capaz de fazer a diferença quando o jogo escapa dos planos e claro, a certeza de que brigaremos por mais títulos. Enquanto esse salto não acontecer, ele seguirá como um técnico dividido entre aplausos e vaias. É querer demais? Para alguns sim, para outros nem tanto. Fato é que Mazzulla já conquistou em pouquíssimo tempo, algo que alguns dos grandes treinadores ainda buscam em seus respectivos currículos: um anel de campeão da NBA, um banner pendurado no TD Garden e seu nome gravado na história do Boston Celtics.
Uma resposta
” é uma certa dificuldade em momentos decisivos, principalmente no que diz respeito ao desempenho do time nos jogos que realmente contam”
Discordo fortemente desse ponto.
o que seriam esses jogos que realmente importam? Na minha visão, são os jogos contra os contender e os jogos de playoff.
Em Playoff temos 70% de aproveitamento, como citado no próprio artigo, e em jogos contra contenders, só o Thunder tem campanha superior:
Thunder: 10×4 (71%)
Celtics: 8×4 (67%)
Cavs: 7×5 (58%)
Rockets: 5×6 (45%)
Knicks: 3×8 (27%)
Nuggets: 3×9 (25%)
Se tem algo que o Celtics vai bem desde o ano passado, é em confrontos importantes.
E vamos lembrar que o Celtics está na regular a passeio, sempre se poupando, sempre evitando jogo físico, enquanto times como Thunder, Cavs e Rockets estão jogando no seu máximo, tentando provar um ponto. Ponto esse que o Celtics não está e não precisa provar.
Outra coisa que deveria ser abordada com mais destaque são:
– O quanto evoluiu jogadores que eram piada, assim como costumam babar o Spoelstra
– O quanto ele tem um time lotado de estrelas nas mãos.
Na primeira afirmação, temos que lembrar citar que ele fez Kornet e Hauser, dois jogadores não draftados, virarem peças uteis de um time campeão. Destaque para a palavra CAMPEÃO. Pois fazer mendigo enganar em time ruim é uma coisa, fazer cara performar em time contender é outra totalmente diferente. E ainda tem o PP, que é um jogador de fundo de draft, que muita gente queria trocar a dois anos atrás, e transformou ele no sexto homem incontestável da liga.
Já sobre ter o elenco na mão. O cara assumiu um vestiário cheio de questões (ou todo mundo aqui esquece que esse vestiário antes dele chegou até a fazer reuniões a portas fechada SEM A PARTICIPAÇÃO DO TREINADOR).
Era uma equipe cheia de egos, com jogador querendo ser herói, com jogadores dando murro em espelho no vestiário, com PP querendo ser trocado e coisa e tal.
Ele pegou esse vestiário fodido, e com tudo pra piorar em meio a uma das maiores crises da história da franquia e fez parecer ser fácil controlar aquilo e colocar todo mundo na palma da mão.
Quantos supertimes nós já não vimos rachar por conta de egos?
No time do Mazzula, isso não só não existe, como ele conseguiu o feito histórico de fazer todos esses caras se comportarem como role players, jogando pelo time em primeiro lugar, sem forçar stats nem nada.
vamos lembrar que o Próprio Porzings teve problemas de ego em 2 dos seus últimos times (ele mesmo assumiu) e em Boston parece um cordeirinho, amado por todos.
Hoje, pra mim, o Mazzulla é tranquilamente um treinador top 5 da liga, e quem diz o contrário eu não consigo nem respeitar a opinião. Pra mim é leigo, mesmo 😀