Cravar uma enterrada monstruosa, bloquear o arremesso de alguém pra longe, ou converter uma cesta no estouro do cronômetro é geralmente uma maneira muito boa para garantir lugar no Top 10 da ESPN. Mas vamos falar a verdade: Não é um Top 10 de verdade até que os tornozelos de alguém sejam embaraçados por um crossover.
O jogo de basquete é baseado em instintos e antecipações, especialmente quando falamos de armadores, que precisam colocar a bola no chão e criar jogadas para si e ainda para seus companheiros de equipe. No basquete você precisa conhecer o seu adversário, e saber que o seu adversário também conhece você. Você tem que ser surpreendente. Você tem que ser imprevisível. E essas são as coisas para as quais não se tem exercícios e nem treinamentos. Você não pode praticar isso. Tudo o que você pode pode fazer é desenvolver seu jogo e deixar os instintos assumirem quando chega a hora de fazer uma jogada.
Não há nenhuma surpresa aqui nessa lista. Você conhece todos esses caras. Mas eu vou te dizer por que você os conhece e o que os torna os melhores ball-handlers da NBA.
Sumário
ToggleJamal Crawford
Antes de mais nada: J. Crossover é meu parceiro. Ele é como meu irmão mais velho. Jogamos muitas vezes juntos na off-season, e ele sempre aparece em meu torneio anual em minha cidade natal de Tacoma, Washington também. Então eu conheço o Jamal melhor do que qualquer um dos outros caras desta lista.
Mas não foi por isso que o incluí. Ele está nesta lista porque ele não é mencionado o suficiente entre os mais habilidosos com bola nas mãos, e ele certamente deve ser.
Jamal é um verdadeiro streetballer. Ele não tem uma marca registrada ou uma jogada manjada. Ele está sempre fazendo algo diferente dependendo da situação, e ele está sempre tentando coisas novas e loucas. Ele é tão talentoso que eu não tenho certeza que ele sabe o que vai fazer às vezes. Ele só cria aquilo do nada, e é quando todo mundo diz: Wow!
Ele tem uma combinação de instintos e habilidades absurdas para controlar a bola. Como quando ele estava jogando contra o Knicks e ele foi pra cima do Deron Williams, driblou por trás das costas, escondeu a bola lá e voltou para completar a bandeja.
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É um dos melhores movimentos que já vi!
A parte mais louca é que ele já estava treinando esse movimento durante o verão em um torneio em Seattle, mas quem iria pensar que ele iria fazer aquilo em um jogo pra valer! Isso é o que separa Jamal do resto dos caras nesta lista, e honestamente, da maioria dos caras na NBA. A forma como ele joga nos torneios de exibição é a mesma que ele joga nos jogos da NBA.
Às vezes acontece de você assistir jogadores da NBA nesses torneios de verão e pensar: Nossa, esse cara é bom. Por que ele não joga assim durante a temporada?. Mas Jamal? Não importa se ele está no Staples Center ou no quintal de casa. Ele joga da mesma maneira todos os dias.
E não vamos esquecer como ele ganhou o nome J. Crossover.
Atrás das costas, entre as pernas ou apenas uma cruzada, Jamal tem um dos melhores crossovers do jogo. Ele já deixou muitos inocentes pelo chão.
Stephen Curry
Contra o Steph, você está sempre tentando adivinhar. Isso é o que o torna tão perigoso. Primeiro: você já começa obrigado a respeitar seu arremesso de três, ou então ele vai te comer vivo do perímetro. E é aí que tudo começa para ele.
Com a bola nas mãos, Steph joga como um Wide Receiver executando uma rota de opção. Tudo o que ele faz depende do que o defensor está fazendo.
Então, quando ele está vindo com a bola em sua direção, se você tem medo do arremesso de três – o que você deve ter – e lhe der um mínimo espaço, ele vai guardar lá dentro. Se você jogar muito em cima dele, encurtando a distância, ele provavelmente vai te driblar. E se ele conseguir a vantagem de botar um passo à sua frente (first step), porque você estava jogando muito afastado? Pode dizer adeus. Ele já se foi. Mesmo se você conseguir recuperar a vantagem do primeiro passo, ele ainda consegue combinar a agilidade e um arremesso rápido para executar um stepback.
Não acabou por aí. A pior parte é que ele é um passador tão bom, que ninguém vai deixar seu matchup livre para subir e te ajudar. Ou seja, você está por sua conta!
Eu acho que ele nunca vai para a quadra pensando “Vou arremessar” ou “Vou infiltrar”. Ele tem uma leitura de quadra tão boa que não é preciso de um plano. Ele só confia em seus instintos e reage à defesa. Como ele sabe fazer tudo muito bem, acaba aproveitando o que lhe oferecerem.
Você não pode me convencer que ele planejou isso:
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Ele usa o screen para dividir a defesa, então dribla dois homens de garrafão que subiram pra ajudar. Entre as pernas, por trás das costas, stepback, cesta. Quatro defensores em uma mínima distância… ainda assim não são páreos para Stephen Curry.
Vocês todos viram este também:
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Se está indo pra cima de seu marcador, você tem que realmente “vender” o drible utilizando seu corpo, e mesmo assim, ainda precisa da rapidez e o controle para executar uma jogada dessas.
Chris Paul é um dos melhores defensores da NBA, não apenas contra armadores, mas no perímetro em geral. E Steph botou o Chris nos patins aqui, porque quando ele fez o drible por trás das costas, insinuando uma volta para a linha de fundo, ele “vendeu” essa ideia para o CP3, que teve a atenção desviada para isso. Assim que CP3 mordeu a isca, Steph sabia que tinha ele nas mãos, e demonstrou a rapidez e o controle de bola para executar o drible seguido do arremesso.
Um monte de caras na liga têm habilidades como infiltrar, passar e arremessar. Mas poucos tem a habilidade para fazer tudo isso mixado, e criar qualquer uma dessas três virtudes para si na quadra. Steph tem.
Chris Paul
Já que ele estava no “lado errado” de ambos os highlights do Curry, vamos demonstrar algum amor pelo meu parceiro CP3. Afinal, ele é um dos armadores com mais recursos na NBA. Ele pode não ser o mais chamativo, mas tem os movimentos certos para chegar onde ele quer. Ele sempre consegue o drible certo na hora certa, pois tem um QI de basquete MUITO alto! Ele é um dos caras mais espertos desse jogo.
Se existe um movimento que eu poderia afirmar que faz parte do dicionário do Chris Paul, seria um movimento chamado “Shammgod“. É quando você começa o drible em uma direção, mas em vez de fazer o crossover com a mesma mão, você faz com a outra mão, trazendo a bola de volta. É um movimento que muitos caras usam para fazer com que o defensor se vire e assim cedam espaço no lado contrário para o condutor da bola… e ainda assim é um movimento bastante básico.
Mas CP3 faz isso de forma diferente. Aqui ele usa saindo do pick-n-roll, e depois aplica o drible de maneira que consegue aproveitar o espaço criado pelo próprio screen, permitindo a separação que ele buscava para puxar um arremesso.
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Somente o CP3 mesmo para pegar um drible como o “Shammgod”, e ainda incrementá-lo, o utilizando entre dois movimentos fundamentais no basquete como o pick-n-roll e o mid-range jumper para fazer uma das jogadas mais eficazes que eu já vi. Ele faz com que pareça tão fácil…Tudo se junta em um movimento longo e fluido, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
Como eu disse, nada chamativo. Apenas basquete esperto, eficiente, e eficaz.
Kyrie Irving
Kyrie vive lateralmente. Ele faz o lado a lado em um nível tão alto que é difícil para os defensores manterem boa posição. Um segundo ele está bem na frente de você, um segundo depois já não está mais… e tudo começa com o crossover. É o mesmo drible que todo guard tem em seu arsenal.
Só que o dele é simplesmente melhor.
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Não me interpretem mal, ele tem um monte de outros dribles também. Ele é tipo o Jamal Crawford, você nunca sabe realmente o movimento que ele vai puxar.
Mas quando se deparar com Irving no isolamento, mano-a-mano, pode ter certeza que irá ver uns crossovers vindo pra cima de você. É o arroz com feijão do Kyrie.
Adicione o fato de que ele possui bom arremesso e ainda consegue finalizar próximo à cesta tão bem quanto ninguém, e assim poderemos dizer que você é definitivamente um candidato à aparecer no Top 10 da ESPN sendo embaralhado pelo Kyrie, quando o estiver marcando. Boa sorte.
James Harden
Eu não sei por que é tão difícil guardar canhotos. Talvez seja só porque a maioria dos caras são destros, então acaba se tornando incomum marcar canhotos. Mas tem um algo a mais com o Harden do que apenas usar a esquerda. Ele é criativo, “enganador” e cheio de artifícios.
Ele tem um monte de “leste/oeste” em seu jogo. Um monte de caras conseguem ir “norte” ou “sul” mas quando James está indo em direção à cesta, ele tem a capacidade de ir para a esquerda ou direita com a mesma facilidade, sem perder o impulso.
É por isso que seu euro-step é tão eficaz. Ele desce a quadra tão rápido que você acaba tendo que marcá-lo nos seus calcanhares, e quando ele lança esse primeiro passo em cima de você, se você for junto, ele tem a capacidade de mudar de direção com esse segundo passo sem desacelerar, de forma que qualquer hesitação por parte do defensor é suficiente para lhe dar o espaço que ele precisa para finalizar na cesta.
Ele coloca os marcadores em seus calcanhares todos os jogos.
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Aqui, ele basicamente colocou a bola atrás das costas e entre as pernas, enquanto ele está indo à toda velocidade, e faz o euro-step, o que exige um controle de bola absurdo. O euro-step do Harden pode ser difícil o suficiente para defender por si só, mas combinando ele com outros movimentos, torna muitas vezes impossível de se parar.
Ele vai te levar para um passeio na meia quadra também. Já aconteceu algumas vezes de ele envergonhar um marcador em situações de mano-a-mano, porque suas mãos são tão rápidas… e às vezes nem sequer parece que ele fez grande coisa, mas mesmo assim consegue deixar uns caras caídos no chão, como ele fez com Ricky Rubio na temporada passada:
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Malditos canhotos.
Bônus: Isaiah Thomas
Você realmente pensou que eu ia comentar sobre os mais habilidosos na NBA e não me incluir na festa?
Para a minha sorte, é difícil defender jogadores pequenos. Isso me dá uma vantagem na manipulação de bola, e também por ser capaz de mudar de direção mais rápido do que um monte de caras. Então comigo, um crossover simples geralmente me dá o espaço e separação que eu preciso para puxar meu arremesso ou fazer outra jogada.
Mas eu também tenho um movimento que eu uso quando sei que preciso desviar a atenção do meu marcador ou quando quero criar um espaço em direção à cesta. É como se fosse um drible de hesitação, algo como uma falsa rotação, e geralmente costuma me levar para onde eu quero ir.
Me lembro de usá-lo quando eu ainda era do Kings, logo no meu primeiro ano na NBA. Nós estávamos enfrentando o Utah Jazz, e eu usei essa hesitação na linha de lance livre que congelou toda a defesa.
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Mas já que estamos falando de grandes condutores de bola, eu tenho que trazer aqui o arremesso que eu fiz também jogando pelo Kings, dessa vez enfrentando o Warriors. Esse foi ainda melhor porque Steph Curry estava me marcando.
Eu fui para o meu crossover e ele meio que tropeçou para trás, e quando ele caiu, ele me fez tropeçar também, então eu fui pro chão junto com ele. Mas fui capaz de manter o meu drible mesmo depois de eu bater no chão, voltei e arremessei equilibrado em apenas um pé.
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Esse é provavelmente o meu highlight favorito porque eu tive que manter o controle da bola mesmo indo para o chão e, em seguida, consegui converter um malabarismo em forma de arremesso. Foi também um dos meus crossovers favoritos porque eu já ia deixando o Steph no chão, se não ficasse emaranhado com ele.
E isso é tudo que eu vou contar sobre meus dribles. Eu não posso revelar todos os meus segredos.
Se quiser mais, você sabe onde fica o YouTube.
Isaiah Thomas tem 27 anos e é o atual armador do Boston Celtics. De última escolha do Draft de 2011 até All-Star da liga, o baixinho de 1,75m possui uma combinação incrível de talentos ofensivos que constituem uma ameaça à qualquer marcador. Ele escreveu este artigo para o site The Players’ Tribune em 22 de Setembro de 2015 e o texto foi cuidadosamente traduzido pela Equipe Celtics Brasil.
Respostas de 3
Não é a toa que o IT melhora a cada temporada, ele está sempre de olho nos melhores jogadores da liga e aprendendo mais sobre o jogo, além de ter personalidade e confiança no seu jogo e por isso não tem medo de demonstrar respeito e admiração por outros jogadores. Até porque no esporte não há inimigos e sim adversário e não a nada de errado em reconhecer as virtudes de um adversário.
Falou tudo Lucas
Texto foda.