Depois de muito tempo, voltamos com a coluna que tem como motivo principal valorizar a nossa cultura no Basquete, que já nós deu muito orgulho e não tem seu devido apreço.
Olimpíadas de 1948
Aconteceu na devastada Londres, após todo o estrago que a Segunda Guerra Mundial fez no país. Apesar disso, a competição de basquete foi extremamente bem avaliada pelos críticos e por quem participou principalmente pelas surpresas que aconteceram.
A competição foi tão párea que para muitos, se ocorresse novamente os resultados entre o segundo até o décimo nono colocado seriam totalmente diferentes. De fato o campeão seriam os americanos, mas para exemplificar, a Coreia que terminou em 8ª lugar perdeu para a China, que terminou em 18º. O México venceu a França na fase de grupos e perdeu para o Brasil na disputa do terceiro lugar. E justamente a França, derrota por uma diferença de 14 pontos para o time latino, venceu o Brasil nas semifinais para garantir assim, a medalha de prata.
No grupo B, cinco das seis equipes ficaram com a mesma quantidade de pontos, 8 no total, por terem vencidos 3 jogos e perdido 2, passando à segunda fase as equipes com maior número de saldo entre pontos realizados e pontos sofridos. Dos 85 jogos disputados, 4 foram para prorrogação. Outros quatro, vencidos por apenas um ponto, 11 por dois pontos e 12 por entre 3 a 6 pontos de diferença.
Tal competição assustou tanto que, para o treinador americano Omar Browning, seu time deveria aumentar bastante o nível para continuar com a hegemonia em 1952. Mas de fato, os EUA é e sempre foi a casa do basquete. Seus jogadores da época eram muito maiores que todos os outros e tinham velocidade assustadora pelo seu tamanho. Jogadores que tinha mais de 2 metros, variando até 2.11m tinham a agilidade de anões. Para se ter ideia, o pivô brasileiro, Alberto Marson, tinha 1.87m de estatura.
Para muitos, a alegria foi ver os jogadores asiáticos jogando, devido a sua inteligência e manipulação estratégica da bola. De fato, sua baixa estatura atrapalhou muito seu desempenho.
No posto de vista técnico, o torneio deixou marcada a importância do pivô central para o jogo. A defesa sólida e o ataque ao redor deste, fizeram o Comitê Técnico da Federação Internacional criar uma regra existente até hoje, há de 3 segundos no garrafão.
Brasil no torneio
Para surpresa de muitos a seleção brasileira foi arrasadora. Pensando nas dificuldades vividas pelos atletas o resultado foi incrível.
Em quase três dias de viagens, com o avião que saiu de São Paulo e fez escalas no Rio, em Natal, na África do Sul, em Lisboa e por fim em Londres, foi talvez esse o menor dos problemas. A seleção estava a cerca de 85 km do local dos jogos, em uma base militar que havia sido bombardeada pela Alemanha a poucos anos, onde não havia sequer um espaço para bater bola, visto que o local era todo coberto por grama. Tal estrutura era tão precária que um dos jogadores titulares, Affonso Évora, torceu o pé e passou ao banco de reservas. Na época, as seleções não faziam modificações em seu time titular durante o jogo, exceto por lesão. A mudança só ocorreu nessas Olimpíadas, visto que os EUA adotaram tal pratica.
E os atletas não sabiam nem se quando voltassem teriam seus empregos novamente. Nessa época e por muitos anos, o basquete era apenas diversão para os atletas, ninguém recebia nada, era um amadorismo puro. A única coisa dada foi a hospedagem e a medalha.
Isso tudo sem contar que foram para as Olimpíadas sem conhecimento nenhum dos seus adversários. Não somente, a equipe só tinha uma bola para o aquecimento, enquanto a equipe americana tinha, para época, absurdas uma bola para cada jogador.
Campanha brasileira
Na segunda aparição do esporte em Olimpíadas de Verão, 23 países foram divididos em 4 grupos. Depois da péssima ideia de fazer o basquete em lugar aberto na primeira vez, o local escolhido foi o Harringay Arena.
O Brasil venceu todos seus 5 jogos da fase inicial. Venceu inclusive o Uruguai, que das 16 primeiras edições do Campeonato Sul Americano de Basquete, venceu 7 contra duas do Brasil.
O primeiro jogo foi contra a Hungria, conseguindo uma vitória apertada, 45 a 41. Essa mesma seleção terminou em terceiro lugar, não se classificando pelo saldo. O segundo jogo também não foi fácil, vitória contra os Uruguaios por 36 a 32. O terceiro jogo foi contra a seleção mais fraca, a Grã-Bretanha. Vitória esmagadora por 65 pontos de diferença, 76 a 11. O terceiro jogo foi contra o vice-campeão das Olimpíadas de 1936, o Canadá. Vitória tranquila por 57 a 35. No último jogo, Brasil despachou a Itália de volta para casa, vencendo por 47 a 31. Nada mal para o esporte que nasceu no Brasil em 1896, inicialmente para mulheres e que teve como forte concorrência o futebol que veio na mesma época.
Nas quartas de final, no dia 09 de agosto, o Brasil pegou a Tchecoslováquia, vencendo apertado por 28 a 23 e carimbou sua ida para as semifinais, onde pegou a França, que venceu o Chile na mesma data em uma batalha, pela diferença de 1 ponto. Vale lembrar que na época não existia bola de 3 pontos, como hoje. Na outra chave os EUA passaram tranquilamente pelo Uruguai e confirmou o confronto contra a forte seleção mexicana, que havia vencido a Coreia do Sul.
Confirmando o amplo favoritismo, os EUA venceram o México e se garantiram na final, enquanto o Brasil não conseguiu vencer a França, ficando assim, para a disputa do terceiro lugar. Um placar que para muitos não foi justo, pois o Brasil tinha melhor time, mas na noite o pais europeu desempenhou seu papel de forma muito eficaz.
Tal noite foi muito triste para os brasileiros, que entraram convictos que poderiam sim conquistar o segundo lugar. Lágrimas ocorreram em muitos dos atletas após a queda para a seleção Francesa.
Obviamente na final os americanos massacraram a França ficando com o ouro, enquanto o Brasil venceu surpreendentemente o México, por 52 a 47, ficando assim com a primeira medalha em esportes coletivos. Tal medalha veio depois de 28 anos de jejum, visto que as únicas medalhas conquistadas foram no tiro em 1920.
Os maiores pontuadores do Brasil foram Alfredo da Motta, com 115 pontos, Algodão com 67 e Braz, com 49.
EQUIPE
Era composta por 10 guerreiros e mais o técnico, Moacir Daiuto. Foram eles, Ruy de Freitas, Alfredo da Motta, Algodão, Affonso Évora, Nilton Pacheco, Marcus Vinicius Dias, João Francisco Braz, Alberto Marson, Alexandre Gemignani e Massinet Sorcinelli. Também temos Luís Benvenuti, atleta que algumas fontes indicam ter participado mas que a Confederação Brasileira de Basquete não reconhece como medalhista.
O técnico Moacir Daiuto, nascido em 1915 e falecido em 1994, nasceu em Altinópolis, São Paulo. Foi treinador da seleção masculina e da seleção feminina. Pela masculina, disputou 14 jogos, venceu 10. Pela feminina jogou 6, vencendo 4. Foi também auxiliar técnico, conquistando o campeonato mundial de 1963 e o vice em 1970, além da medalha de prata no Pan de 1963.
Foi treinador do Corinthians onde ganhou 2 campeonatos sul americanos (1965/66 e 1969), campeão da taça Brasil e do campeonato Paulista. Atuou também pelo Sírio, onde conquistou sua 3 taça sul americana, em 1971 e o time do Palmeiras.
Estudioso, também foi autor de livros onde ensinava metodologia, origem e evolução do Basquete.
RUY FREITAS
Nasceu em 1916, em Macaé, Rio de Janeiro, aonde viveu toda sua vida. O armador de 1.74cm jogou toda sua vida em times do estado onde nasceu. Foram Associação Cristã de Moços (RJ), Riachuelo (RJ), América (RJ) e Associação Atlética Grajaú (RJ). Aposentou-se em 1953 e voltou como técnico três anos depois, dirigindo time em 8 jogos, vencendo 6 e conquistando o 3º lugar no Sul Americano de 1955.
Conhecido como Tio Ruy, é de fato um dos jogadores mais importantes da historia do basquete Brasileiro. Carlos Nunes, presidente da CBB o definiu assim: “O tio Ruy foi um jogador muito importante para o basquete brasileiro. Agradeço por tudo o que ele fez pela seleção e pelo desenvolvimento do esporte no país, como jogador e treinador.”.
Foi além de medalhista de bronze em 1948 e capitão do time, 6º lugar nas Olimpíadas de Helsinque em 1952, 4º lugar no campeonato mundial de 1950 e duas vezes campeão sul americano. Nas Olimpíadas, marcou 37 pontos em 8 jogos, e em 46 partidas oficiais pela seleção, deixou 250 pontos.
Faleceu em 2012, aos 95 anos, de falência múltipla de órgãos, originada por uma pneumonia e agravada pelo Mal de Parkinson que havia diagnosticado 7 anos antes.
ALFREDO DA MOTTA
O Ala cestinha nas Olimpíadas de 1948, nasceu no Rio de Janeiro, em 1921. Filho de pais nadadores, jogou pelo Flamengo onde conquistou o tricampeonato brasileiro, além do decacampeonato estadual.
Cestinha por natureza, marcou 539 pontos em 58 jogos pela seleção. Nos jogos Olímpicos de 1948, foram 115 em 8 jogos, média alta já que não existia bola de 3 pontos. Foi vice-campeão mundial em 1954 e campeão sul americano em 1945.
ALGODÃO
Carioca, nascido em 1925 e falecido em 2001 foi um dos mais famosos jogadores desse belo elenco. Teve esse apelido ainda quando criança, devido a barriga que parecia com o item. Começou em Campo Grande e logo foi para o Flamengo, onde jogou por toda carreira e conseguiu três títulos nacionais.
O Ala de 1.85m tem em sua história duas medalhas olímpicas. Além da Londres, conquistou a de bronze já veterano em 1960, em Roma. Disputou também a de 1952 e 1956, com 6º lugar em ambas
Além disso foi campeão mundial de 1959 e vice em 1954. Disputou 3 pan-americanos e foi campeão sul americano em 1958. Marcou 648 pontos em 88 jogos oficiais pela seleção. Como veterano foi campeão do Torneio Individual de lance livre e três pontos no 10º World Senior Games nos Estados Unidos – 1996
AFFONSO ÉVORA
Nascido em 1918 e falecido em 2008, em Petrópolis, Affonso Évora era titular da seleção nas Olimpíadas. Mas sua lesão, quando já estava em Londres, o restringiu a jogar apenas 4 jogos. Além da medalha de 1948, conquistou também a medalha de prata em 1947, no sul-americano. Évora também fez parte dos atletas que jogaram pelo Flamengo e serviu o exercito brasileiro durante a Segunda Guerra Mundial.
Marcou 36 pontos em 8 jogos oficiais pela seleção e foi um dos homenageados em 2007, participando da condução da tocha dos jogos do Pan Americano.
NILTON PACHECO
O baiano de Salvador, nascido em 1920 e falecido em 2013, era armador e jogou somente até 1948. Com 1.80m iniciou a carreira no Clube Bahiano de Tênis e transferiu-se para o Fluminense.
Disputou também os campeonatos sul americanos de 1941, 1945 e 1947. Em 20 jogos oficiais pela seleção, marcou 97 pontos.
MARCUS VINICIUS DIAS
Nascido no Rio de Janeiro em 1923 e falecido aos 69 anos, em 1992, jogou 12 jogos com a seleção brasileira. Disputou dois torneios, sendo campeão sul americano no Equador em 1945, marcando 16 pontos em 4 jogos e medalha de bronze em 1948, marcando 18 pontos em 8 jogos.
JOÃO FRANCISCO BRAZ
O Ala Braz, Paulista, nascido em 1920 e falecido em 1996, era conhecido por seu talento com o arremesso. Começou sua carreira no São Paulo, onde foi para o Pinheiros e terminou sua carreira em 1956, no Ipiranga, todos do maior estado Brasileiro.
Disputou duas Olimpíadas, a de 1948 e 1952. Braz marcou 50 pontos em 12 jogos oficiais e foi três vezes campeão brasileiro de arremesso livre.
ALBERTO MARSON
O único atleta vivo até hoje, nasceu em 1925, em Casa Branca, São Paulo. Além dos jogos olímpicos em 1948, foi bronze no pan-americano de Buenos Aires, em 1951 e vice-campeão sul-americano em 1949. Marcou ao todo 49 pontos em 15 jogos oficiais pela seleção.
Depois da carreira no basquete, foi professor da primeira turma do ITA, e também trabalhou com o basquete nos locais onde morou. Atualmente, reside em São José dos Campos.
Carlos Nunes, presidente da Confederação Brasileira de Basquete o definiu bem claramente e ressaltou sua importância ao basquete: “Alberto Marson, juntamente com todo aquele grupo maravilhoso, foram jogadores precursores das conquistas e glórias que o basquete brasileiro alcançou até hoje”
ALEXANDRE GEMIGNANI
Paulista, nascido em 1925 e falecido em 1998, jogou 18 jogos pela seleção, marcando 38 pontos. Além da medalha conquistada em Londres, foi vice-campeão sul americano no Paraguai em 1949 e 4º lugar no campeonato mundial na Argentina em 1950.
MASSINET SORCINELLI
O ala paulista, nascido em 1922 e que faleceu em 1971, com apenas 49 anos, jogou 17 jogos pela seleção, fazendo 55 pontos. Além da medalha nas Olimpíadas de 1948, foi campeão sul americano em 1945 e terceiro lugar no pan-americano em 1951
Respostas de 2
Parabens por voltar com a coluna, Guilherme. Matéria excelente e fundamental para conhecermos mais da história do nosso basquete.
Aguardo ansioso para as próximas.
ótima materia, parabéns!