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Joe Mazzulla está pronto para liderar uma equipe da NBA?

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O maior aprendizado sobre liderança

Em 2022, alguns meses antes de assumir como interino no Celtics, Joe Mazzulla participou do processo seletivo para se tornar técnico do Utah Jazz. 

Ele falou sobre isso com a mídia antes do jogo contra o próprio Utah, no início de janeiro, e exaltou duas coisas: primeiro, que ele jamais usaria um terno novamente “porque ternos são desconfortáveis e inúteis”, e segundo, uma pergunta que foi feita para ele durante o processo seletivo, uma pergunta que na época ele não soube responder.

A pergunta feita a Joe Mazzulla foi: “Você acha que, mesmo sendo jovem, pode liderar uma equipe da NBA?”

Entrevista (em inglês) na qual Joe Mazzulla fala sobre a enntrevista com o Utah Jazz

No fundo, ele acreditava que conseguiria comandar uma equipe e disse isso durante a entrevista, mas não conseguiu se expressar da melhor forma possível. 

No final das contas, o Utah Jazz selecionou Will Hardy (ex-assistente do Celtics) para a vaga, o que Mazzulla considerou um grande acerto, mesmo achando que poderia ter se vendido melhor. “Eu nem mesmo lembro qual foi minha resposta, mas eu pude sentir que não me vendi da forma que deveria ou afirmei meu valor da forma que eu deveria”, disse Mazzulla.

O treinador esclareceu que esse foi um momento essencial para ele passar a se ver, efetivamente, como um profissional de verdade e que na época ele não conseguiu responder a essa pergunta, mas aprendeu muito com a experiência e hoje ele estaria preparado para respondê-la de bate pronto. 

Adequação e princípios

Mazzulla disse que após responder essa pergunta ele percebeu que “tirando o brilho e o glamour de ser treinador do Celtics, liderar uma organização na NBA seguindo seus princípios e sendo uma liderança, são coisas até certo ponto comuns”. O técnico falou que “…respondendo essa pergunta de Utah e olhando para o conceito de liderança dessa forma, sabendo que já fiz isso antes, eu consigo. Pode parecer diferente e você pode ter que ajustar alguns valores e princípios dependendo do ambiente e da cultura na qual você está inserido, mas é plenamente possível.”

É fato que a primeira temporada de Joe Mazzulla foi praticada em um cenário nada amigável para o técnico, principalmente em relação à essa formação de princípios, à seleção dos assistentes e ao contexto em torno da equipe. 

“Essa foi a parte mais legal, especialmente durante a offseason, criar esse ambiente do zero. Você nunca sabe se os seus valores pessoais vão se traduzir como positivos para a organização até você começar a trabalhá-los com os outros membros. Então, criar esse ambiente e desenvolver esses valores, sistemas, processos, provavelmente tem sido a melhor parte de toda essa experiência, até mais do que a parte relacionada ao basquete”.

Joe MazzulLa sobre o início dessa temporada

Novos ares

O cenário do Boston Celtics em relação à primeira temporada de Mazzulla no comando da equipe é completamente diferente. 

Em 2022, Mazzulla chegou ao cargo de técnico interino apenas dois dias antes da apresentação do time para o início da pré-temporada, período essencial para a equipe iniciar os trabalhos para o resto da temporada e definir metas, lideranças, estratégias e muito mais, sendo também o período onde comissão técnica e elenco se encontram pela primeira vez, visando trabalhar como uma unidade.

Apesar de todo um cenário desfavorável para o técnico, ele conseguiu uma ótima campanha com 57 vitórias e chegou novamente às finais de conferência. 

O resultado final não foi o melhor, mas o fim daquela temporada deu início a uma mudança interna muito grande, tanto no elenco que vai às quadras quanto no elenco que fica nas beiradas. 

Durante a offseason, Joe Mazzulla e Brad Stevens (ex-técnico e atual Gerente de Operações) trabalharam para montar uma nova comissão técnica e equipe de treinadores, que foi o primeiro passo para a mudança de postura da equipe.

Saíram peças como Marcus Smart e Grant Williams, ao passo que chegaram jogadores como Kristaps Porzingis e Jrue Holliday, com melhor encaixe para o time, atuando como peças de quebra-cabeça. Derrick White fez uma temporada digna de All-Star. Jayson Tatum e Jaylen Brown seguem mostrando porque são os grandes nomes da equipe. 

Resultados parciais

O Celtics mostrou nessa temporada regular um jogo coletivo de altíssimo nível, não sendo à toa o recorde com 64 vitórias, o melhor ataque da liga, uma das melhores defesas da liga  e tudo que acompanha isso.

  • melhor recorde da liga
  • maior diferença de jogos ao fim da regular em uma conferência desde 1976
  • margem de 11.34 pontos, quinta melhor marca da história da NBA
  • margem de 15.22 pontos em casa, terceira melhor marca da história da NBA
  • 1.22 pontos por posse, maior marca da história da NBA
  • 1.351 bolas de 3, segunda melhor marca da história da NBA
  • 37 vitórias em casa, melhor número da NBA em 8 anos
  • Venceu ou empatou 28 de 29 séries na temporada regular (perdeu apenas para Denver 0-2)
  • Melhor recorde da temporada em casa, menor marca de derrotas fora de casa e melhor recorde em b2b
  • Chegou aos playoffs 17 dias antes de qualquer outra equipe

Até mesmo o banco, que era a grande dúvida de todos os torcedores, se mostrou digno de confiança com nomes como Al Horford, Sam Hauser, Payton Pritchard, Luke Kornet, Oshae Brisset e até mesmo o recém chegado Xavier Tillman fazendo bons trabalhos em seus poucos minutos. 

O time se mostrou com uma atitude diferente em relação à última temporada e atropelou seus adversários como um trator, e isso é parcialmente porque Joe Mazzulla, finalmente, está podendo fazer as coisas do seu jeito.

Mudanças na abordagem de treinos: o Mazzulla Ball

De acordo com o The Athletic, logo no começo da offseason – após terminar a temporada com 57 vitórias e uma ida à final de conferência – Mazzulla começou a realizar mudanças sobre como o time deveria ter como grande objetivo o título, mas também entender e focar nos processos do dia-a-dia. Foram realizados diversos ajustes em relação a como o time treinaria.

O retorno aos trabalhos para se preparar para o Training Camp foi marcado por muitos elogios à forma com que Mazzulla e sua equipe técnica alteraram o planejamento diário de cada jogador. 

Ele também organizou o fluxo de informações da comissão técnica, criando uma prática chamada pelo próprio técnico de “liderança tribal”, um sistema no qual os assistentes trabalham em grupos de três ou quatro pessoas ao invés de um a um. 

Ele esperava que esse sistema desse aos assistentes um sentimento de empoderamento dentro do trabalho realizado, criando discussões nas quais cada um pode trazer uma opinião forte e embasada no trabalho de um grupo específico de jogadores.

Mazzulla disse em entrevista antes do jogo contra o Utah Jazz que “primeiro você cria sistemas para empoderar a comissão técnica, definindo o que cada um deve fazer e qual será o fluxo de informações dos assistentes para o técnico.”

“Eu tenho meus valores pessoais, mas nós devemos ter valores coletivos, temos que ter uma responsabilidade coletiva, nós devemos criar um sentimento de identidade com a organização.”, disse o técnico. “Isso leva tempo. No primeiro dia você apresenta suas ideias e então a temporada acontece e te apresenta formas de aplicar isso. Às vezes isso funciona, às vezes não funciona, e você deve estar preparado para melhorar nisso”.

Mazzulla também abordou que após sua primeira temporada, ele teve tempo para assimilar as experiências que viveu, boas ou ruins. Uma das coisas que ele analisou é que deveria mudar seu comportamento em relação ao tratamento que dava para a mídia. Isso foi uma mudança visível no comportamento do técnico, que hoje se mostra muito mais aberto para conversar sobre diversos temas do que na última temporada, onde jornalistas recebiam uma série de respostas secas.

A demora para implementar essas mudanças

Vamos novamente lembrar o cenário no qual Mazzulla foi inserido ao assumir como interino: comissão de outro técnico, time recém-finalista, um escândalo da franquia circulando na mídia e a oportunidade de ocupar o cargo apenas dois dias antes do início do Training Camp. Haviam coisas que simplesmente não poderiam ser mudadas de forma imediata ou o técnico ficaria mal visto por sua nova equipe e seu elenco, afinal, o jeito que Ime Udoka trabalhou funcionou, mas esse não era o jeito de Joe Mazzulla.

O técnico disse que o elenco se reuniu no início desta temporada para discutir quais seriam os valores e princípios da equipe. De forma unida, o elenco decidiu pelo seguinte: “humildade, mentalidade, trabalho duro, paixão, união e serem desagradáveis (com os adversários)”.

Tudo isso está sendo visto no elenco dessa temporada. A humildade se mostra na diminuição de usagem dos principais jogadores para dar espaço aos que chegaram e um jogo coletivo muito significativo, principalmente no setor defensivo, o que mostra também um senso de união essencial para vencer jogos. 

É um time que, diferentemente da última temporada, não se abate após derrotas ou após perder vantagens, mostrando uma mentalidade vencedora. Isso é visto na forma como a equipe jogou após suas derrotas. São 13 vitórias e apenas 4 derrotas nessa situação. Lembrando que a equipe não sofreu mais de duas derrotas seguidas.

O trabalho duro e a paixão são vistos de forma clara em todas as vitórias da equipe na temporada. Isso tudo torna o Boston Celtics uma equipe que nenhum adversário gosta de enfrentar. Não existem jogos fáceis, todo jogo é uma batalha e “cada vitória é conquistada”, como diz Joe Mazzulla.

Ele está pronto.

Obviamente, Joe Mazzulla não conseguiu a vaga como técnico do Utah Jazz. Quem conseguiu foi Will Hardy, que disse “eu não lembro como respondi aquela pergunta. Nós não recebemos um relatório. Mas eu tentei ser o mais honesto possível. Quando você está passando por essas entrevistas, não há necessidade de omitir as coisas. Sim, eu sou jovem. Sim, eu nunca fui um técnico principal. Mas às vezes há força nisso, tipo, eu não sou um produto terminado, não sou rigido, eu não ando com um caderno gigante que diz ‘esse é meu plano, é pegar ou largar’. Então eu ainda não tenho todas as respostas”. Boa resposta do atual treinador de Utah, diga-se de passagem.

“Liderar uma organização é difícil. Estar nessa posição é diferente de ser um assistente. Você sente tudo que acontece, bom ou ruim, de forma diferente. Você toma responsabilidade não só pelos jogadores, mas pela equipe que está com você todos os dias.” completou o técnico do Utah Jazz. “Eu espero não me acostumar com isso, acho que essa ansiedade e estresse te mantém afiados”.

Mazzulla sabia que poderia liderar uma franquia na época, mas não deu uma resposta convincente o suficiente para ser contratado. “Passar por aquele processo me ajudou a articular minhas forças e tudo o que eu acredito que consigo fazer. Foi algo muito bom o que aconteceu”.

Joe não estava pronto na época, aquele desafio não era para ele. Mas quando a oportunidade surgiu alguns meses depois, na equipe que ele já trabalhava, com os jogadores que ele já treinava e com a experiência adquirida após todo esse processo, ele estava finalmente pronto.

“É engraçado. Quando essa entrevista aconteceu aqui no Celtics ano passado (antes do Training Camp), o Brad me fez exatamente a mesma pergunta. E eu só disse: SIM.”

Joe MazzulLa, técnico do Boston Celtics

Texto por Daniel Victor Dias | Colaboração de Vicente Kresiak

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