No basquete profissional, a familiaridade trouxe consigo a rivalidade em 1960. Naquele tempo, a NBA era uma liga de apenas oito times que se enfrentavam durante a agenda de mais de 75 jogos. Portanto, os reencontros entre jogadores eram freqüentes. O Boston Celtics e o St. Louis Hawks, que se conheciam bem, tiveram de se conhecer ainda mais quando repetiram a final, pela terceira vez em quatro anos.
Bob Cousy VS. Slater Martin
“Naquele tempo, o Hawks era o mais intenso rival que tínhamos”, disse o armador Bob Cousy. Nada caracterizava mais esse ensejo que o confronto entre o próprio Cousy e Slater Martin, pertencente ao time de Saint Louis.
Bob freqüentemente se sentia ansioso para enfrentar os armadores de maior estatura da liga, porque a velocidade e a agilidade dele geralmente levavam vantagem sobre o tamanho e a força dos outros. Martin, no entanto, era menor que Cousy, mas de velocidade equivalente. “Eu sempre pedia ajuda para marcar ou driblar Slater”, o armador celta admitiu. “Eu costumava dizer aos meus jogadores de garrafão para estabelecer picks sempre que podiam”.
Cousy também dizia que, apesar de Martin ser mais velho que ele, nunca tinha notado uma diminuição na velocidade ou mesmo falta de competitividade no que tangia ao armador de St. Louis. Porém, pela primeira vez em uma carreira de 11 anos na liga, problemas físicos começaram a atrapalhar o desempenho de Slater em 1960.
“Eu jamais havia fraturado um tornozelo enquanto jogava basquete”, relembra Martin. “Nunca tivera problemas com meus tornozelos, nunca pusera sequer bandagens neles. Eu podia ficar pronto para o jogo em 30 segundos. Vestia meu protetor testicular, meu uniforme e já estava a ponto de entrar na quadra”.
Ele teve uma lesão nos ligamentos dos joelhos durante o All-Star Game daquela temporada, coincidentemente em Saint Louis. Dessa forma, ficou algumas semanas afastado até se recuperar. Depois, lesionou um músculo das pernas durante os playoffs. O time estava em uma série apertada contra o Lakers e necessitava de uma vitória fora de casa. Martin, alguns anos depois, afirmou que o dono do Hawks, Ben Kerner, pediu a ele que jogasse a partida em Minneapolis com uma dose de novacaína (N.T.: analgésico, também conhecido como procaína) para amenizar as dores. O jogador atendeu ao pedido, e o time de Missouri venceu. Slater, entretanto, sentiu-se aos cacos no dia seguinte. Era pior do que o esperado, o que indicou que ele estava de fora do resto da temporada.
Clique aqui para mais detalhes sobre os confrontos entre esses dois jogadores, por Flávio Catandi.
St. Louis Hawks
O Hawks passou apertado pelo Lakers, acarretando mais uma final contra o time de Boston. Ed Macauley agora estava em sua segunda temporada no cargo de técnico de St. Louis. Em uma entrevista a um canal de televisão, logo após eliminar Minneapolis, Macauley garantiu que o Hawks venceria o Celtics, embora isso tenha sido apenas um comentário público. Em sua privacidade, Ed sabia que o time seria atropelado no garrafão. “Temos de agradecer muito se ganharmos um mero jogo nestas finais”, contou à sua esposa.
O elenco principal de Saint Louis havia mudado consideravelmente desde aquele título de 1958. Bob Pettit e Cliff Hagan ainda constituíam o garrafão, mas Jack Coleman, Charlie Share e Macauley já não integravam mais o elenco. A temporada de Jack McMahon tinha-se reduzido a 25 jogos e, com Martin lesionado, Si Green e Johnny McCarthy conduziam a armação.
Se por um lado o elenco havia-se transformado muito em apenas 2 anos, os novos jogadores conheciam bem o clima das Finais. Larry Foust (que tinha jogado com Fort Wayne) e Clyde Lovellette foram adquiridos junto a Minneapolis. Dave Pointek, um ala, chegou de Cincinnati (N.T.: o Royals saiu de Rochester, em 1957). Bob Ferry era um novato, reserva para o garrafão, mas aprendeu bem rápido o jogo profissional.
Apesar de esse grupo ter sido forte o suficiente para vencer a Divisão Oeste com um recorde de 49 vitórias – 26 derrotas, muitos especialistas, assim como Macauley, perceberam que eles não chegariam ao ponto de vencer o Celtics. Afinal, a dinastia de Boston estava-se construindo a todo vapor, e nenhum time parecia capaz de pará-la.
Boston Celtics
O time celta havia completado a temporada 1959-60 com um recorde impressionante na NBA: 59 vitórias, 16 derrotas. A franquia conseguira isso, na Divisão Leste, mesmo com a presença dominante do novato Wilt Chamberlain (7’1’’), integrante do Philadelphia Warriors já depois de passar um tempo com o Harlem Globetrotters.
Boston era o retrato de como talento e estabilidade podem andar juntos, com Bill Russell e seus 24 rebotes por jogo sendo a base para as belas performances do time. Bill Sharman e Cousy eram titulares, porém Sam Jones anotava 12 pontos em seus 20 minutos de média como reserva de Sharman.
Tom Heinsohn estava em seu auge e liderou o time em pontos, com uma média de 21.7 deles por partida. Fazendo isso, ele ganhou o apelido de “Ack-Ack” (N.T.: Antiaerial warcraft), pois ‘chutava’ tão rápido e freqüente quanto uma bateria antiaérea. Frank Ramsey acrescentou ainda 15 pontos por ensejo à franquia, e o técnico Red Auerbach contava com um sólido banco de apoio do qual faziam parte ainda K.C. Jones e Gene Conley (6’8’’, 255 lbs.), ex-arremessador de baseball.
A Série Final
Assim, condizente com as expectativas, Boston dominou o primeiro jogo da série, 140-122. Entretanto, o Celtics foi surpreendido com uma reviravolta na segunda partida, representando uma vitória para o Hawks, 113-103, em pleno Boston Garden. Para reafirmar a própria dominância, a franquia de Massachusetts atropelou o adversário novamente, 102-86, no Kiel Auditorium (jogo 3).
St. Louis ganhou partida seguinte, 106-96, fazendo com que a série voltasse ao Garden empatada em 2 vitórias para cada um dos times. Boston venceu o quinto jogo, repetindo uma larga margem, 125-102. Mesmo tendo perdido a partida de número 6 no Missouri, 105-102, o Celtics voltou à sua própria casa ainda confiante para renovar o título no último jogo.
Em 9 de Abril, Boston alcançou o segundo campeonato consecutivo (e terceiro, no total) com uma vitória confortável, 122-103. Aquele foi um dia de grandes recordes para as estrelas de Auerbach: Russell marcou 22 pontos, com 35 rebotes e 4 assistências; além disso, Ramsey (6’3’’) anotou 24 pontos e 13 rebotes e Heinsohn ainda acrescentou 22 pontos e oito rebotes. No total, a franquia tinha humilhado St. Louis na tábua de rebotes: 83 a 47.
Com Martin sem condições de jogo, Cousy mostrou-se indomável. No último jogo das finais, terminou com 19 pontos e 14 assistências. Aconteceu o que todos esperavam, e não havia nada para St. Louis sentir-se envergonhado. Afinal, o time tinha vencido três jogos a mais do que seu próprio técnico acreditava.
Fonte: NBA Encyclopedia
Por: Sávio Martins
Respostas de 3
Simplismente, FANTÄSTICO
PArabéns pelo trabalho Sávio, mto bem feito.
Obrigado 🙂
Fico muito feliz que tenha gostado!
E boa sorte pra nós todos esse ano.
It’s all about 18.
35 rebotes em uma final.
Russell era FODA !!!!