Como Joe Mazzulla liderou Boston ao 18º título

Entenda como um técnico da 2ª divisão do basquete universitário moldou um elenco campeão da NBA usando o desconforto como principal estratégia

Joe Mazzulla segurando o Troféu Larry O’Brien como campeão da NBA.

Shaun Powell fez em seu artigo “5 takeaways for 2024 championship” uma comparação muito correta sobre o título do Boston Celtics. “Fazer 18 é normalmente um sinal de maturidade, de finalmente crescer”, e isso traduz muito bem o que o 18º título representa: amadurecimento.

“Eu sempre disse, eu tenho um relacionamento doentio com competição. Mas eu descobri que competir não é apenas querer ganhar, é entender o que é necessário e entregar isso, com a flexibilidade para seguir.”

Joe Mazzulla

Quem é Joe Mazzulla

Natural de Rhode Island, Mazzulla cresceu a cerca de 45 minutos de Boston e, desde pequeno, viveu de basquete. Seu pai participava de atividades de recreação e tinha as chaves para um ginásio na cidade e ele sempre jogava com os membros da comunidade.

Mazzulla diz que os “rachões” sempre terminavam com ele e seu pai, um contra um, dentro do garrafão e sem regras, e que eles só saíam de lá quando um deles estivesse “morto ou sangrando”. Isso ensinou Joe a passar por maus momentos e foi parte do seu aprendizado em relação ao jogo.

Batalhas internas

Esse aprendizado se tornou algo essencial para Mazzulla na sua primeira temporada como técnico do Boston Celtics, afinal, Dan Mazzulla (seu pai) morreu em 2020 após batalhar contra um câncer no cérebro e Joe disse que ainda não superou o luto.

“Aquela série contra Miami foi difícil. Foi meu maior desafio desde que ele nos deixou e acabou sendo um processo de crescimento pessoal e profissional enorme. O jogo 7 daquela série foi no aniversário dele.”

Conectado a tudo isso, Joe Mazzulla deixa bem claro que tudo acontece por um motivo. As vitórias são parte do caminho, mas as derrotas são as grandes oportunidades de aprender. “Aqueles dois meses [dos playoffs de 2023] foram uma grande experiência de desenvolvimento pessoal e profissional.”

“As coisas nem sempre vão acontecer de forma fácil.”

A primeira temporada como técnico do Boston Celtics

No meio do fogo cruzado envolvendo a demissão surpreendente de Ime Udoka e o início da temporada 2022-23, Mazzulla assumiu o Boston Celtics como interino apenas um dia antes do início dos treinos. O significado disso foi um elenco montado para outro técnico e uma comissão da qual ele fazia parte, agora como líder.

“Eu não ditei como as coisas aconteceriam. Eu sonhava em ser o técnico do time da região onde eu cresci e quando essa oportunidade apareceu, não dava pra escolher o ambiente ou as circunstâncias disso. A única escolha que eu tinha era responder à altura.”

Apesar desse cenário imperfeito, a equipe teve uma campanha bastante positiva (57-25) na temporada regular e de grandes vitórias no playoffs, mas Boston caiu para um Miami Heat que havia disputado o play-in e terminou a temporada de forma antecipada novamente.

O resultado disso foram diversas críticas a todo o elenco, mas principalmente para Joe Mazzulla, que era visto como jovem demais, despreparado e, por alguns, incapaz de treinar um time campeão.

A questão da idade

Algo que não ajudava Mazzulla era o fato de ser o técnico mais novo da história a assumir uma equipe recém-finalista desde Lawrence Frank em 2003-04. Ele também se tornou o mais jovem técnico a começar uma temporada desde Bill Russel em 1966-67, que na época era jogador-treinador aos 32 anos.

Após sua primeira temporada no comando do Celtics, Mazzulla recebeu um apoio muito especial. Ray Scott, ex-jogador, ex-técnico e primeiro técnico negro a vencer o prêmio de técnico do ano, não só elogiou Mazzulla como disse que o Celtics estava trilhando o caminho correto com o jovem treinador.

Scott assumiu como técnico do Detroit Pistons em 1972, aos 34 anos (tal qual Mazzulla). Em 1973-74, recebeu o prêmio de Técnico do Ano (COY), sendo o primeiro negro a realizar tal feito. “Estou torcendo por ele. Ele é um jovem técnico e um irmão, eu conheço a piscina na qual ele está nadando.” disse Ray Scott.

“Ele está em uma situação que eu chamo de must-win. Eu reconheço que ele está nadando em águas profundas. Toda decisão que ele tomar vai gerar dúvidas e críticas. Se ele chamar um tempo, ótimo. Se ele chamar um tempo? Péssimo.”

Ray Scott com seu troféu de técnico do ano.

A busca pelo desconforto

“Ele faz as coisas de um jeito diferente. Ele gosta do desconforto mais do que a maioria das pessoas”, foram algumas palavras de Derrick White sobre Joe Mazzulla.

Essa é provavelmente a principal característica do técnico e se traduz muito para as táticas e estratégias que ele deseja passar para o elenco. 

A principal dessas características é, provavelmente, a mais odiada pelos torcedores: a forma como Mazzulla lida com pedidos de tempo e como o ataque de Boston é moldado para funcionar.

Desde o início do seu trabalho como técnico e, principalmente, na sua primeira temporada, Mazzulla deixou bem claro que parte da sua filosofia é acreditar que os jogadores podem tomar boas decisões em quadra, tanto que nos seus pedidos de tempo, questões mentais são muito mais abordadas do que as questões táticas.

“Eu acredito que muitas vezes nós perdemos tempo pensando ‘eu não pedi por isso’ ou ‘eu não sei se estou disposto a abrir mão do que eu quero para vencer’ e acho que devemos batalhar contra isso constantemente.”, Joe Mazzulla.

A segunda chance

Brad Stevens garantiu a permanência de Mazzulla como técnico do Boston Celtics para a temporada 2023-24 e grande parte da torcida se irritou, afinal, como pode um técnico tão jovem e inexperiente estar pronto para ser campeão da NBA?

A resposta foi escrita na história como os capítulos de um livro que se desenhava para um final feliz.

Tudo começou durante a offseason, com a possibilidade de montar sua própria comissão técnica, adicionando nomes como Sam Cassell, Charles Lee e Amile Jefferson, e envolvendo profissionais que já estavam envolvidos com o dia a dia da equipe, como Tony Dobbins, D.J. MacLeay e Matt Reynolds.

“Eu acredito que, com tudo que eles passaram, com Joe sendo o técnico sem ter sua própria comissão, foi um obstáculo para a temporada deles.”

Alex Cora, do Boston Red Sox

Outra parte importante da temporada, para Mazzulla, foi a oportunidade de ter uma offseason completa, participando da tomada de decisões na formação do elenco e organizando um calendário de treinos completo, seguindo suas próprias ideias e criando sua própria cultura.

O resultado disso foi uma temporada regular muito sólida e cheia de eventos que consolidavam cada vez mais Mazzulla como um dos melhores técnicos da NBA.

In-Season Tournament

O torneio do meio de temporada criado pela NBA foi uma grande novidade para todos, com seu modelo diferenciado e regras novas. Uma das regras dizia que, na fase de grupos, o desempate seria feito de acordo com o balanço entre pontos marcados e pontos sofridos.

Após vitórias contra Nets e Raptors e uma derrota para o Orlando Magic, o Boston Celtics jogava contra o Chicago Bulls e precisava tirar uma grande diferença de pontos para garantir uma vaga na fase de mata-mata.

Mazzulla então tomou uma decisão que vai contra o “bom senso” e, mesmo vencendo a partida, indicou para que os jogadores fizessem faltas propositais nos jogadores com baixo aproveitamento em lances livres, garantindo assim um aumento na diferença de pontuação.

https://twitter.com/NBADramatics/status/1729716984911106382

“No final do jogo eu não estava feliz, eu estava me sentindo de um jeito diferente. Esse tipo de decisão afeta outras pessoas”, disse Mazzulla que também completou em entrevista pós-jogo: “Eu peço desculpas ao time do Bulls, mas era o que precisava ser feito.”

Empoderamento do elenco

Durante a temporada, Mazzulla realizou diversos testes no elenco. Isso significava que em diversas situações, jogadores que não participavam do time titular ganhavam minutos para mostrar sua capacidade, principalmente no final de partidas.

Um desses momentos, talvez o mais memorável de todos, aconteceu numa partida contra o Toronto Raptors no dia 11 de novembro. Boston havia feito uma excelente partida com Tatum, Brown e Porzingis marcando acima dos 20 pontos, o que encaminhou o jogo com antecedência e abriu espaço para que os bancários do Celtics ganhassem minutos.

Aproximadamente na marca dos 3 minutos para o final da partida, a arbitragem marcou uma bola fora que daria posse de bola para a equipe de Toronto e Mazzulla desafiou a chamada enquanto ganhava a partida por 27 pontos. A equipe e a comissão técnica do Raptors ficaram furiosas e partiram pra cima de Mazzulla alegando desrespeito.

https://twitter.com/theshift_sports/status/1723525233800257666

Jayson Tatum, após o jogo explicou a chamada: “Ele mencionou após o jogo que aqueles minutos no final do jogo, quando estávamos ganhando por 25 pontos, eram importantes para os caras que nem sempre tem oportunidades de jogar.” O camisa 0 esclareceu. “Aqueles minutos importam para eles independente de qualquer coisa, eles treinam todo dia assim como nós, eles pegam peso, eles viajam. Joe quer treinar eles da mesma forma como nos treina, e eu respeito isso.”

“Eu amo isso. Esse é o tipo de jogador que eu sou, então eu quero ser treinado dessa forma. Acho que todos querem ser treinados dessa forma” disse Payton Pritchard, o jogador que sinalizou para que Mazzulla pedisse o desafio.

No final das contas, Mazzulla não só ganhou o desafio como ganhou ainda mais o respeito de seu elenco.

Final da temporada regular e recordes

O Boston Celtics terminou a temporada regular com a melhor campanha da NBA e convenceu a todos que eles seriam o time a se bater na conferência leste. Com um recorde de 64 vitórias e apenas 18 derrotas, Boston quebrou recordes e se consolidou com uma temporada histórica.

Alguns dos números de Boston nessa temporada regular foram:

  • Melhor ataque da temporada
  • 2ª melhor defesa da temporada
  • Melhor saldo entre ataque e defesa da temporada
  • Apenas 1 série perdida na temporada regular (contra Denver)
  • Maior número de pontos na história da franquia (9887)
  • Maior número de bolas de 3 pontos na história da franquia (1351), 2º maior da história da NBA
  • Maior número de vitórias por 50+ pontos (3) na história da NBA
  • Maior número de vitórias por 40+ pontos (4) na história da NBA, empatado com o OKC dessa temporada.
  • Maior número de vitórias por 30+ pontos (10) na história da NBA, empatado com o Bucks de 1971-72
  • Maior número de jogos com mais de 15 bolas de 3 pontos convertidas (63) na história da NBA
  • O primeiro time, desde os Warriors de 1975-76 a terminar a temporada 14 jogos à frente de qualquer outro time da liga
  • O primeiro time a acertar mais de 1300 bolas de 3 pontos em temporadas seguidas

Entre muitos outros, incluindo marcas pessoais para membros do elenco.

O resultado dessa performance tão positiva se moldou como confiança para uma pós-temporada que se iniciaria contra o time que colocou um ponto final na temporada anterior.

A vingança contra o Miami Heat

Boston chegou aos Playoffs da NBA como o time a ser batido e deu de cara, logo de primeira, com o Miami Heat. A equipe da Flórida tinha sido o algoz da temporada anterior, quando venceu por 4×3 a final de conferência em uma série histórica.

Apesar do sentimento geral de angústia, devido ao ano anterior, Boston era francamente favorito, principalmente pelo fato de Jimmy Butler, astro de Miami, ter sido cortado pelo time após sofrer uma lesão no play-in. Mesmo com um jogo 2 terrível, o resultado foi uma vitória tranquila por 4×1 para o Celtics e a passagem para a 2ª rodada dos playoffs.

“Nós olhamos para tudo. Nossos assistentes foram incríveis e fizeram um trabalho cheio de propósito nos nossos ajustes. Mantivemos o simples, mas ao mesmo tempo soubemos que precisávamos de ajustes e nossos jogadores tiveram um nível de maturidade em relação aos detalhes.”

“O tema dessa série era fisicalidade e buscar a vitória na margem de arremessos convertidos. Foi um trabalho em conjunto da comissão e dos jogadores com um alto nível de maturidade, algo que precisamos manter.”, disse Joe Mazzulla após vencer a série.

O confronto contra o Cleveland Cavaliers

A segunda rodada dos playoffs foi marcada por um confronto contra uma equipe recheada de talentos jovens. O Cavs vinha com Garland, Mitchell, Mobley e seus roleplayers após uma longa batalha contra o Orlando Magic na 1ª rodada.

O primeiro jogo foi dominação total de Boston, enquanto o segundo jogo foi dominado pela equipe de Cleveland que mostrou seu poderio ofensivo do perímetro acertando 46% das bolas longas. E foi a partir disso que Mazzulla entrou na equação com um ajuste tático considerado “louco” por analistas.

https://twitter.com/JaredWeissNBA/status/1789478832077971610

Joe Mazzulla é um dos principais defensores da bola de 3 na NBA atual e já disse diversas vezes que a melhor forma de um time se sagrar vencedor é garantindo uma maior margem de arremessos longos convertidos. O técnico também compartilhou a teoria de que times como Cleveland e Miami podem conquistar de volta espaço na partida se a margem de arremessos estiver do lado deles.

Para combater essa possibilidade, Mazzulla ajustou a equipe para trocar a marcação em todas as posses: “Uma vez que nós trocamos, isso acaba forçando jogadas de isolação. Isso tira a bola de três de caras como Struss, Merrill e Morris e força as jogadas de 1 contra 1.”

É claro que esse tipo de estratégia tem um ponto fraco: o garrafão. Muitas vezes, Evan Mobley ficava com um caminho bastante aberto para pontuar, principalmente contra Luke Kornet. 

Mas como dito anteriormente, uma das palavras mágicas da estratégia de Mazzulla é a “margem de arremessos”. Se você arremessar mais (e acertar mais) bolas de 3 pontos, você vai marcar mais pontos que um adversário que acerta apenas bolas prioritariamente de dentro do perímetro.

O resultado disso foi um dominante 4×1 contra o Cavaliers, garantindo mais uma vez a ida para as finais de conferência do leste.

O maior desafio no leste foi o Indiana Pacers

O adversário na final da conferência do leste foi o Indiana Pacers, dono do melhor ataque dos playoffs até o momento e um dos times mais rápidos da NBA. Apesar da série ter terminado 4×0, foram os 4 jogos mais difíceis dos playoffs. E tudo começou de uma maneira mágica.

Em um jogo lotado de emoções, o Pacers foi para Boston e deu muito trabalho. Com 10 mudanças de liderança e uma corrida que permitiu Indiana abrir uma vantagem no final do jogo, tudo acabou sendo definido na última posse do tempo regular. Jrue Holiday cobrou o fundo-bola com um passe para Jaylen Brown que arremessou por cima de Pascal Siakam para empatar a partida e enviar o jogo para a prorrogação e vencer.

https://twitter.com/Harrison954_/status/1793124455641760087

Após um jogo 2 mais tranquilo, Boston foi para Indiana roubar o mando de quadra, mas a equipe da casa não estava disposta a cair de forma fácil. O Pacers chegou a abrir 18 pontos de diferença, liderando o placar desde o início do 2º quarto até os momentos finais do último, onde Boston alcançou a pontuação de Indiana após uma recuperação que começou no 3º quarto.

“Em um dos pedidos de tempo no 3º quarto, o Joe disse pra gente parar de sentir pena de nós mesmos.”, disse Tatum. “Independente de qual a situação que nós estamos, é onde nós estamos. Precisamos lidar com isso.”

O camisa 0 também completou: “Parecia que toda posse deles, eles conseguiam pontuar. E quando eles marcam, nós colocamos nossa cabeça pra baixo. Joe sempre diz que as coisas nem sempre vão acontecer da maneira que gostaríamos, e está tudo bem. Não tem problema estar 15 ou 17 pontos atrás no placar, desde que ainda exista uma oportunidade de vencer a partida.”

O resultado dessas falas? O Boston Celtics nos 18 minutos seguintes conseguiu 8 tocos e 4 roubos de bola, limitando o Indiana Pacers a apenas 42 pontos na segunda metade da partida. Uma virada esmagadora que culminou em uma vitória essencial para continuar no caminho pelo 18º banner e que só aconteceu porque Joe Mazzulla conseguiu transmitir para os jogadores o sentimento de buscar a vitória, independente do cenário.

Mas ainda faltava uma vitória e seria mais um jogo em Indiana. O roteiro foi muito parecido, com o Pacers liderando o placar pela maior parte da segunda metade da partida. Com cerca de 3 minutos no relógio, Boston estava 4 pontos atrás e precisava de uma luz para conseguir voltar no jogo após uma sequência de erros grotescos. Mazzulla pede tempo para conversar com o time.

“Nós nos sentimos confiantes. Começa pelos treinos de Joe e continua na confiança que temos uns nos outros. Nos sentimos confiantes em qualquer tipo de jogo e temos respostas para qualquer tipo de coisa que o adversário jogar em cima da gente. Independente do cenário, temos que achar os arremessos certos.”

Derrick White

O time volta do tempo que Mazzulla havia pedido com outra energia e o resultado nos 3 minutos seguintes foi:

  • 7 pontos marcados
  • 2 roubos de bola
  • 1 toco
  • 6 rebotes (2 ofensivos)
  • 42% nos arremessos
  • 0 pontos sofridos

O Boston Celtics venceu a partida por 105 x 102, varreu o Indiana Pacers e garantiu vaga para as Finais da NBA pela 2ª vez em três anos.

O último desafio: Dallas Mavericks

O adversário era o Dallas Mavericks de Luka Doncic e Kyrie Irving. O cenário era o maior possível: A Final da NBA. O objetivo era o tão sonhado 18º título.

Jogo 1

Tudo começou da melhor forma possível com atuações impressionantes de jogadores como Brown, Holiday e Porzingis. A proposta de Mazzulla para esse primeiro jogo foi muito clara: muitas trocas e marcação cerrada, limitando as opções coletivas e forçando Dallas em um jogo de isolação de Luka e Irving. E funcionou. O Celtics limitou o adversário a apenas 89 pontos, a menor marca do Mavericks nos playoffs.

Jogo 2

O Boston Celtics foi para o jogo 2 com a mesma estratégia defensiva e conseguiu limitar Dallas a menos de 100 pontos, bloqueando as possibilidades ofensivas coletivas. No ataque, Boston contou com um jogo espetacular de Jrue Holiday e de Jayson Tatum que inverteram suas funções. O camisa 0 fechou a partida com incríveis 11 assistências, 6 delas para o camisa 4. Com isso, Boston garantiu a segunda vitória na série.

Jogo 3

Com 2×0 na série, Boston foi para Dallas jogar a 3ª partida. “Se você está em uma luta e sente que está prestes a nocautear o adversário, você normalmente leva um soco.”, foi o que disse o fã de UFC e lutador de Jiu-Jitsu, Joe Mazzulla. O que isso significa? Ele queria ver Boston pronto para lutar até o final novamente.

O jogo 3 foi mais difícil. Kyrie Irving apareceu para o jogo pela primeira vez na série e o time de Dallas parecia pegar todos os rebotes. Sem Porzingis no garrafão, o Mavericks buscou infiltrações a todo custo. Do outro lado, Mazzulla indicava para que o time buscasse a bola de 3 rodando a bola.

Lembra da tal margem de arremessos convertidos que o Mazzulla tanto falou na série contra o Cavs? Boston acertou 8 bolas de 3 pontos a mais que Dallas, que se limitou ao garrafão e viu seu principal jogador expulso por excesso de faltas, cavando a cova da equipe na partida.

“Nós estávamos esperando o soco”, disse Jayson Tatum após o final do jogo. “Temos que continuar lutando. Não podemos relaxar.”

Jogo 4

Apesar disso, no jogo 4 o time relaxou. “Eu achei que Dallas jogou muito. Temos que dar os créditos para eles. Isso não é apenas sobre nós.”, disse Joe Mazzulla após a partida. “Eu achei que [Derrick] Lively foi muito bem. Tivemos 26 arremessos errados no primeiro tempo e apenas 2 rebotes ofensivos. Precisamos melhorar nossos rebotes.”

Jogo 5: o capítulo final

“Temos poucas chances na vida para sermos grandiosos” foi uma das frases que Joe Mazzulla disse após a partida no contexto de afirmar: aproveitamos essa chance.

O jogo 5 foi uma dominação completa. Boston começou ditando o ritmo do jogo no primeiro quarto e não desacelerou em momento algum. Com uma bola espírita de Payton Pritchard, especialista em arremessos do meio da quadra, o Celtics foi para o vestiário liderando por 19 pontos e o sentimento era que qualquer minuto extra era protocolar.

No terceiro quarto, Boston manteve a frente e viu sua vantagem diminuir… para 17 pontos! A menor diferença de placar que Dallas conseguiu durante o segundo tempo da partida.

No último quarto a visão era de um placar elástico e um homem com os braços levantados gritando “Mais rápido, vamos. Não relaxem agora”, implorando para que Jayson Tatum não parasse de pontuar, posse após posse.

Na metade do último quarto, Mazzulla tomou a decisão de dar minutos para jogadores da rotação que foram importantes para essa maratona. Entraram em quadra Hauser, Pritchard, Kornet, Brisset e Mykhailiuk, enquanto os titulares e seus outros companheiros choravam na beira da quadra. Lágrimas de alegria.

Na buzina final, o Boston Celtics se sagrava campeão da NBA após uma partida aliviante.

Como a busca pelo desconforto moldou um elenco campeão?

“Ele nos diz para correr em direção ao desconforto e das adversidades. Ele nos ensina a combater velhos demônios, encontrá-los e passar por cima deles. Essa é a mentalidade.”

Al Horford

Joe Mazzulla foi chamado de louco. Foi chamado de estranho. Foi chamado de psicopata. Ele tem uma maneira de pensar única, ele é melhor amigo das adversidades, ele não tem medo de dizer o que precisa ser dito. Ele critica, ensina e aprende tanto quanto os jogadores durante o processo.

Uma vez, próximo ao vestiário do Celtics, Mazzulla falou que às vezes falava algo que ele sabia que irritaria seus jogadores e criaria tensão para eles falarem sobre isso e crescerem como profissionais. Ele sabia que o objetivo principal era o título e que para isso existiam diversos tipos de expectativa.

“Essas expectativas não vão sumir do nada, então como podemos melhorar isso juntos?”

“Começamos a criar situações de estresse. Mental, físico, emocional. Viver essas situações de estresse com frequência nos ensina a lidar com isso nos momentos de necessidade. E então nós nos tornamos melhores nisso.”, disse Mazzulla.

Esse método, assim como vários outros métodos do técnico, foram profundamente criticados durante a temporada, mas algo não fazia sentido… 

As pessoas que criticavam estavam vendo de fora, enquanto quem estava envolvido no dia-a-dia da equipe entendia que, cada vez mais, o elenco, a comissão e toda a equipe de apoio estava cada vez mais sob a liderança desse louco, estranho e psicopata.

E no final das contas, como a busca pelo desconforto moldou um elenco campeão?

O desconforto contínuo e a cultura de sempre buscar melhorar criou um time resiliente nos momentos de adversidade e preparado para enfrentar qualquer situação. “As coisas nem sempre vão acontecer de forma fácil” e “competir não é apenas querer ganhar, é entender o que é necessário e entregar isso, com a flexibilidade para seguir.”.

Foi dessa forma que o Boston Celtics entregou números históricos e mostrou evolução, mesmo após uma ótima temporada.

Foi assim que o Boston Celtics se sagrou campeão da NBA pela 18ª vez na história com Mazzulla se juntando a lendas como Red Auerbach, Bill Russell, Tom Heinsohn, Bill Fitch, K.C. Jones e Doc Rivers.

E agora quem chamava ele de louco, tem que chamá-lo de campeão.

“O Celtics estava aqui antes de mim e o Celtics vai continuar aqui quando eu acabar. Mas nesse meio tempo, nós conseguimos deixar um legado?”

Joe Mazzulla, campeão da NBA

Fontes:

Minisérie “Mazzulla” da NBC Sports Boston

How Joe Mazzulla molded the Celtics in his image to lead them to an NBA title

Joe Mazzulla: Mavericks’ effort was ‘a lot better’ than Celtics’ in Game 4

Celtics win 18th NBA championship with 106-88 Game 5 victory over Dallas Mavericks

Inside Joe Mazzulla’s big deffensive gamble to beat Cavaliers with analytics

Escrito por Daniel Victor Dias

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