David William Cowens

De seus 11 anos como jogador da NBA, Dave Cowens dedicou 10 deles ao Boston Celtics. Um herói improvável, visto que, à época, a NBA era famosa por pivôs de grande tamanho e qualidade. O camisa 18 do Celtics, no entanto, fez história graças a sua raça e a seu coração. Conjugando esses dois fatores, encontrou seu espaço para figurar entre as lendas do esporte.

Sua determinação foi um dos principais fatores para a ressurreição do Celtics e, consequentemente, de sua dinastia (presumida como morta), logo após a aposentadoria do lendário Bill Russell. Cowens não só conseguiu reconduzir o Celtics ao caminho das glórias, como também conduziu a si próprio para o Hall da Fama, um feito que ele jamais achou que conseguiria atingir.

Hora de desvencilhar como o eterno camisa 18 de Boston trilhou sua carreira rumo à eternidade na NBA.

Draft 1970 (escolhido pelo Boston Celtics com a 4ª escolha)
Nascimento 25 de Outubro de 1948
Altura 2,06 metros (6’9”)
Posição Pivô
Camisa no Celtics 18

Dave Cowens defendeu, durante sua carreira na NCAA (liga universitária norte-americana), a Universidade de Florida State. Sua maior qualidade era o poder de pegar rebotes. Isso pode ser aferido ao vermos que Cowens era, e ainda é, o maior reboteiro da história do Florida Gators (nome da equipe de basquete da universidade supracitada), com uma incrível média de 17.3 rebotes por jogo. No total, o atleta conseguiu 1.340 rebotes, em apenas 3 anos. Vale lembrar que Cowens era um pivô baixíssimo, tendo ”apenas” 2,09 metros, o que deixa abaixo de muitos alas-pivôs.

Apesar do cenário desesperançoso, visto que o pivô encararia uma competição mais acirrada entre os profissionais e seu tamanho seria um fator negativo, o Boston Celtics decidiu apostar alto no jogador nascido em Kentucky. Na verdade, apostou muito alto, já que Cowens foi selecionado com a 4ª escolha-geral do 1970 NBA Draft. Muitos criticaram, à época, Red Auerbach, então presidente de operações da franquia de Boston. E adivinhem só? Todos estavam errados, menos Auerbach.

O dirigente celta, àquela altura, já havia percebido que a equipe de Boston necessitava de algum jogador capaz de, pelo menos, tentar substituir o incrível Bill Russell. Afinal, após a aposentadoria do camisa 6 de Boston (ocorrida ao término da temporada 68/69), o Celtics só conseguiu angariar míseras 34 vitórias na temporada 69/70, mesmo contando com os talentos do craque John Havlicek. Auerbach decidiu apostar em Cowens, por admirar seu perfil aguerrido e trabalhador. Logo após o recrutamento daquele ano, Auerbach proferiu as seguintes palavras: “Cowens é um garoto dedicado. Um garoto dedicado não chega a ser uma exceção, mas não é algo tão comum como gostaríamos. Nosso problema com ele é conseguir convencê-lo a descansar. Ele não para”.

Uma das coisas que o pivô não parava de fazer, durante seu primeiro ano pelo Celtics, era de cometer faltas. Naquele ano, Cowens foi o líder nessa categoria, ao realizar 350 infrações. À título de curiosidade, vale informar que Cowens foi expulso de 90 partidas durante sua carreira (devido ao acúmulo de faltas), o que o coloca no ranking de 20 jogadores mais expulsos da história da NBA. Contudo, Cowens, claramente, não se resumia a faltas, tanto que, na mesma primeira temporada, obteve médias de 17.0 pontos e 15.0 rebotes por duelo, as melhores médias conquistadas por um calouro celta na história, que não chamado Bill Russell. Seu desempenho foi tão espetacular, que o pivô, ao lado de Geoff Petrie – do Portland Trail Blazers -, foi eleito o calouro da temporada.

Como visto acima, a excelente habilidade de Cowens, para pegar rebotes, foi traduzida nas quadras da NBA, onde o pivô foi rei supremo nessa categoria ao longo de sua carreira. Durante sua temporada de calouro, em 70/71, Cowens conseguiu, de cara, uma média de 15.0 rebotes por jogo. O camisa 18 fazia seu papel de reboteiro nos dois lados da quadra, mas sua especialidade eram os rebotes defensivos. Isso fica visível ao vermos que Cowens permanece como o melhor reboteiro defensivo da história da liga, com uma inimaginável média de 9.8 rebotes defensivos por duelo. Não podemos deixar de mencionar que a referida estatística de rebotes defensivos só passou a ser contabilizada nos últimos 8 anos da carreira do pivô. Se considerássemos as 3 primeiras, a média poderia ser ainda mais assustadora.

Entretanto, muito se engana quem pensa que o camisa 18 do Celtics reduzia-se a meros rebotes. Caso contrário, ele não seria uma lenda. Ao longo de sua passagem pelo maior campeão da NBA, Cowens nunca teve uma média de pontos por jogo inferior a 14.2. Sua maior média de pontos, em uma temporada, foi em 1972/1973, quando conseguiu 20.5 por noite.

https://www.youtube.com/watch?v=2Ur3M6b7g2s

Essa temporada, diga-se de passagem, merece uma atenção especial, já que nela, Cowens amadureceu sua habilidade como reboteiro, conseguindo 16.2 por jogo, o que o colocou como 3º melhor no quesito, naquele ano. O craque celta só ficou atrás de Wilt Chamberlain e Nate Thurmond. Naquela temporada, Cowens disputou todos os jogos e com uma altíssima média de 41.8 minutos por partida. Com seu jogo amadurecido e com uma alta carga de minutos, o resultado só poderia ser um: em sua terceira temporada, Dave Cowens faria companhia a Bill Russell e a Bob Cousy, como os únicos celtas a vencer o prêmio de MVP. Posteriormente, Larry Bird entrou para esse seleto grupo ao vencer por 3 anos consecutivos (1984-1986). É mister salientar que, à época, os votos para MVP eram dados pelos próprios jogadores da liga.

Com o manto celta, o pivô conquistou 2 títulos, nos anos de 1974 (quando o pivô adversário era Kareem Abdul-Jabbar) e de 1976. Todavia, após a última conquista, o memorável time celta entrou em declínio, assim como seu camisa 18. Na offseason para 76/77, o Celtics negociou o jogador Paul Silas, um dos melhores amigos de Cowens, com o Denver Nuggets. Com a saída de Silas, Cowens perdeu bastante a vontade para continuar jogando. Com isso e apenas 28 anos, o pivô desistiu de prosseguir sua carreira.

Porém, esse “adeus” às quadras foi, na verdade, um ”até logo”, tendo em vista que após 30 jogos da temporada 76/77, Cowens voltou a vestir a camisa número 18 do Celtics. Todavia, embora tenha disputado mais 4 temporadas (com médias combinadas de 16.6 pontos e 11.4 rebotes), o seu auge já havia passado. Não obstante, e como frisado acima, o elenco acompanhou ao seu declínio pessoal: nessas temporadas, o Celtics teve de conviver com a aposentadoria de Havlicek e com seu número de vitórias caindo ano após ano – 44 (76/77), 32 (77/78) e 29 (78/79).

Nessa última temporada supramencionada, inclusive, o Celtics teve um horrível começo, com apenas 2 vitórias nos 14 jogos iniciais. Desse modo, Auerbach resolveu apostar, novamente, em Cowens: desta vez, o craque celta exerceria o papel de jogador-treinador, papel esse que Bill Russell havia exercido nos anos 60. Entretanto, como visto acima, o final não foi dos melhores. “Eu nunca havia treinado um time na minha vida. Foram muitas tarefas para eu fazer ao mesmo tempo”, reconheceu o então pivô-treinador.

Entretanto, a noite é sempre mais escura antes do amanhecer. Após o péssimo ano em 1979, o Celtics recebeu, via Draft, o líder da próxima geração vitoriosa de sua história. Esse líder era um tal de Larry Bird. Com as chegadas de Bird e Bill Fitch (este substituiu Cowens como treinador da equipe), o Celtics ressurgiu na décima e última temporada do seu camisa 18 em Boston. Em 1979/1980, o maior campeão da NBA voltou a ser o melhor da Divisão Atlântico e conseguiu uma campanha de 61 vitórias e 21 derrotas. Por ter ajudado ao Celtics a conseguir 32 vitórias a mais, de uma temporada para a outra, Bird recebeu o prêmio de calouro do ano de 1980.

https://www.youtube.com/watch?v=VHqBKOhgrEE

Depois da temporada de 79/80, Cowens voltou a anunciar sua aposentadoria. E, mais uma vez, esse ”adeus” não foi definitivo. Após 2 anos longe das quadras, o pivô decidiu realizar uma última tentativa, durante a temporada 1982/1983, devido ao pedido pessoal feito por seu amigo e ex-companheiro Don Nelson. Assim, Cowens voltou a jogar, mas dessa vez pelo Milwaukee Bucks. Naquela temporada, o craque celta disputou 40 partidas, incluindo 4 partidas contra seu querido Boston Celtics durante as semi-finais do Leste. Naquele ano, Dave Cowens obteve médias de 8.1 pontos e 6.9 rebotes, com uma média de 25.4 minutos jogados.

Dave Cowens despediu-se, definitivamente, das quadras, após essa temporada. 32 anos depois, o eterno camisa 18 de Boston permanece sendo visto como um dos melhores jogadores da história. O pivô celta era um jogador completo e isso fica claro ao vermos que o mesmo faz parte de um grupo composto por apenas 4 jogadores (Scottie Pippen, Kevin Garnett e LeBron James são os outros integrantes) que conseguiram liderar suas franquias, numa única temporada, em pontos, rebotes, assistências, tocos e roubos de bola. Cowens conseguiu esse feito durante a temporada 1977/1978.

Dave Cowens não foi o único celta a fazer história com esse número, já que Jim Loscutoff, o seu antecessor como detentor do número 18, decidiu manter a camisa 18 disponível para ser usada. Desse modo, o Celtics o homenageou com o seu apelido “LOSCY” no teto do Boston Garden e, atualmente, no do TD Garden. Assim, o caminho ficou aberto para o sucessor de Bill Russel fazer história com o mesmo número e, agradecido por sua contribuição com a franquia, o Celtics decidiu retirar sua camisa 18, das quadras, em 08/02/1981.

Abaixo, os números e feitos de Dave Cowens:

2 vezes campeão da NBA (1974 e 1976)
MVP da NBA (1973)
Camisa número 18 aposentada pelo Celtics em sua homenagem
7 vezes selecionado para o NBA All-Star (1972-1978)
NBA All-Star Game MVP (1973)
Vencedor do prêmio de Calouro do Ano (1971)
3 vezes eleito para o All-NBA Second Team (1973; 1975-1976)
3 vezes eleito para os times defensivos da temporada (1976 – primeiro time); (1975 e 1980 – segundo time)
Jogador eleito para o Hall of Fame
Membro do time formado pela NBA, no aniversário de 50 anos da liga

Médias da Carreira (1970-1980; 1983)

Minutos Pts Reb Ast Stl Blk FG 3Pts FT
38.6 min 17.6 13.6 3.8 1.1 0.9 46.0% 0.71% 78.3%

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Respostas de 10

  1. Outro texto muito bacana Rômulo! É incrível a capacidade que o Red tinha de fazer a melhor leitura possível e sempre conseguir o melhor pra franquia!
    Fico também imaginando estas lendas celtas jogando hoje em dia, com a medicina avançada e preparos e longevidade melhores…

  2. Olynyk dando um exemplo de como se vc fizer 30+ pontos e não souber defender, a derrota é inevitável.

    Ontem a VENEZUELA despachou o Canadá de Wiggins, KO, Bennet, C. Joseph, sendo que o cabeleira meteu 30+ pontos nos 3 primeiros quartos e foi uma peneira no último.

    Teve um pump-fake (detalhe, da linha dos 3) de um cara da Venezuela que ele entrou no drible e foi parar na arquibancada…

    Apesar disso, a culpa não foi só dele (apesar de ser peneirado nos momentos decisivos)….

    []s verdes

  3. K O : para não acharem que algo pessoal contra, ataca bem.Mas na defesa, enfim. Sem comentários. Infantil. No ataque +30 na defesa colabora para o time superar 100 pontos contrários.

  4. Defesa acima de tudo é vontade, e o Olynyk parece que realmente não gosta de defender, teve um lance no fim do jogo bizarro ele andando vendo o contra ataque adversário o cara errou o arremesso e cade ele no garrafão…

    De qq forma ele é o menos culpado pela derrota, já que além de ter feito mais de 30 pontos, ainda pegou 14 rebotes, ou seja, cade o resto da equipe…a parte dele foi feita muito bem que era chamar o jogo e pontuar, a equipe que tem o Olynyk em quadra tem que ter o resto do time forte na defesa para compensar.

  5. Concordo contigo. Na season passada cansei de ver lances grotescos do KO na defesa. Ko para um lado jogador a ser marcado.para outro. Ko assistindo o ataque adversário. Ko andando…

  6. Poderiam fazer uma matéria sobre o discurso do Tommy Heinsohn no Hall of Fame! O cara é um mito!! Orgulho de ter ele na história do nosso Celtão!!!

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