Crowder precisa amadurecer e transformar o “desrespeito” em motivação

Desde que chegou a Boston, Jae Crowder tem chamado atenção do mundo da NBA, pelo o que faz dentro das quadras, ao mostrar um estilo de jogo físico e aguerrido. Nos últimos meses, contudo, como já reportado pelo Celtics Brasil, o camisa 99 também passou a dar manchetes pelo o que faz fora das quatro linhas, ao demonstrar um comportamento irritadiço e ser dono de um pavio extremamente curto, especialmente com o maior patrimônio do Boston Celtics: a sua torcida.

Na noite de ontem, o ala, oriundo do 2012 NBA Draft, nos deu mais uma prova dessas duas facetas expostas acima.

Antes mesmo da bola subir para o jogo contra o Utah Jazz, o jogador, atual titular da ala celta, viu sua própria torcida aplaudir e reverenciar Gordon Hayward, também ala, que é jogador da equipe adversária.

Crowder não gostou nada disso e deixou isso bem claro nas redes sociais, como já noticiado pelo Celtics Brasil, em matéria feita pelo amigo Gustavo Arruda.

E, quer saber? Eu não tiro a razão de Crowder.

Quando se entra no TD Garden, você nunca sabe o que vai acontecer, mas muitos (senão todos) descartariam a hipótese de aplaudir um ala adversário, a menos que ele atenda pelo nome de Paul Pierce.

Entretanto, por se tratar de Hayward, há várias nuâncias que devem ser consideradas e que talvez expliquem (embora não justifiquem) a reação explosiva do jogador celta.

Além de Crowder e Hayward jogarem na mesma posição, como dito acima, o camisa 20 de Utah foi o melhor jogador que passou sob o comando de Brad Stevens, atual treinador celta, enquanto o mesmo exercera a função de treinador da Universidade de Butler.

Adicione a essas informações, o fato de Hayward, muito provavelmente, tornar-se agente livre irrestrito na próxima offseason e os inúmeros rumores que afirmam que o Celtics planeja reunir, mais uma vez, Stevens e seu ex-pupilo dos tempos de College. Portanto, não restam dúvidas: Jae Crowder está inseguro.

Ao ler esse último parágrafo, você deve ter pensado o mesmo que eu: “Ora, mas ele é um profissional. Qualquer um sofre pressão em seu emprego, cabe ao Crowder saber lidar com isso da melhor maneira possível”. E você está certo. Construiremos o trecho final desta matéria em cima dessa assertiva.

Jae Crowder hears when folks say #Celtics are All-Star caliber SF from being elite team. He was a 2nd-round pick, always has felt slighted.

— gary washburn (@GwashburnGlobe) January 4, 2017

Como mostra o tweet acima, Jae Crowder sofre com desconfiança, acerca do seu talento, desde cedo. O camisa 99 do Celtics foi recrutado apenas na segunda rodada do 2012 NBA Draft e teve que trabalhar pesado, desde seu primeiro dia de NBA, para provar que merece estar na melhor liga de basquete do mundo.

Quando enviado para Boston, na troca que envolveu a ida de Rajon Rondo para o Dallas Mavericks, Jae Crowder foi, novamente, desafiado e, até o presente momento, superou, e muito, as expectativas, tanto que teve seu contrato renovado na penúltima offseason, por um valor total de US$ 35 milhões.

Como dito ainda no primeiro parágrafo, Jae Crowder detém um estilo de jogo aguerrido e uma personalidade forte. Se o atleta chegou até aqui, é devido ao seu coração, é porque acreditou em seu talento, quando poucos – ou ninguém – acreditaram.

That passion is what has made Crowder a starting SF in NBA and a glue guy for #Celtics. He seeks respect and feels he doesn't get enough.

— gary washburn (@GwashburnGlobe) January 4, 2017

Hoje, o ala é titular da posição 3 da equipe mais vencedora da história da NBA, possui um contrato milionário e quase conseguiu entrar no segundo time de defesa da liga, na última temporada. Seu progresso é, além de notório, incontroverso.

Todavia, o bate-boca no qual Crowder se envolveu, na última noite, por meio do Twitter, expôs que o jogador, apesar das inúmeras conquistas alcançadas em poucos anos, ainda se sente desprestigiado e que seu comportamento agressivo, na verdade, serve como escudo para defender-se dos poucos torcedores que ainda o veem como um jogador inútil ou de pouco valor.

Entretanto, o atleta precisa perceber que essa exposição só o prejudica e que também precisa mostrar maturidade fora das quatro linhas, para ter uma carreira longa e bem-sucedida na NBA.

De qualquer modo, na noite de ontem, também pudemos perceber que a mera possibilidade de ser desrespeitado ou desvalorizado por sua própria torcida, fez com que Crowder tivesse, muito provavelmente, sua melhor atuação na presente temporada.

Afinal, o “inimigo” Gordon Hayward, embora tenha conseguido 23 pontos (7/14 FG), não brilhou como em muitos outros jogos da atual temporada, e muito disso se deve à marcação exercida por Crowder, que também impactou na quadra ofensiva, ao angariar 21 pontos em apenas 8 arremessos tentados (sendo que 6 foram convertidos, daí inclusos, 5 acertos em 6 bolas de três tentadas).

Além das estatísticas, vimos um Crowder mais agressivo ontem, que buscou a infiltração mais vezes, além de ter distribuído passes mais ousados e criativos, enquanto esteve em quadra.

Portanto, vimos que Crowder foi capaz de canalizar toda a raiva que sentiu, pelo suposto desrespeito que fora alvo, e transformou tudo isso em sua melhor atuação em 2016/2017. O jogador, “apenas”, pecou em não se contentar com sua grande atuação e expor isso, de forma irracional e tola, nas redes sociais.

Cedo ou tarde, o camisa 99 de Boston vai cair em si e entender que aqueles que o vaiam ou depreciam serão os mesmos que o irão aplaudir e reverenciar, quando o jogador elevar o nível de seu jogo, como o fez ontem, e for decisivo para trazer vitórias e títulos para o Celtics.

Talvez, Jae Crowder não jogue para conquistar o respeito dessa meia-dúzia de torcedores que aplaudiu Gordon Hayward na noite de ontem.

De todo modo, o ala mostrou, mais uma vez, ser passional, dentro e fora das quadras. Por tudo que passou e teve que superar, para chegar até aqui, eu compreendo seu comportamento e vejo sua agressividade como nada mais que um escudo para defender-se de alguns torcedores que ainda o veem como um simples jogador de segunda rodada, sem nenhuma utilidade.

Você merece respeito, sim, Jae Crowder.

No entanto, precisa entender que os torcedores, por mais ilógico que alguns de seus comportamentos possam parecer, possuem o direito de aplaudir e torcer para quem bem entendam.

No fim, a lição é que Crowder deve focar apenas naquilo que está em seu controle, que é progredir seu jogo, algo que tem feito com tanto sucesso desde que desembarcou em Boston, e não se preocupar com o fato de que alguns torcedores de seu time prefiram outros a ele.

Por ora, só o resta pensar no próximo jogo e deixar que os aplausos e vaias caiam onde quer que queiram.

O amadurecimento vem com o tempo e, com sorte, Jae Crowder também mostrará avanços nessa área.